“Crime Passional”.

Antonio desde cedo, se propôs a criar seu pé de meia.
De todo dinheiro que ganhava, usava só o essencial, o resto ia para um lugar secreto, para comprar seu sítio.
Logo cedo ainda menor, já havia comprado pequena gleba de terra de seu padrinho.
Mais um pequeno esforço e construiu um ranchinho, que sempre ampliava.
Quando fez vinte anos já estava com casa montada e tudo que uma boa chácara precisava.
Sem pedir nada a ninguém, era o exemplo de trabalho e recompensa.
Todos o admiravam.
Nas festas era paquerado por inúmeras garotas, mas, parece que ainda não havia chegado há sua hora.
Sim mas, Cremilda apareceu.
Cremilda, menina precoce desde cedo se engalfinhava com qualquer menino, queria viver intensamente.
Graças a isto seus dotes se sobressaiam, tinha um corpo escultural.
Aliado a isto a beleza do mato, parecia um bichinho pedindo socorro.
E isto ela sabia usar bem.
Só que não combinava com a maioria dos rapazes, pois todos queriam uma esposa e não uma namoradinha.
Assessorada pela mãe raposa velha,montou um esquema em cima de Antonio.
Inocente neste tipo de jogo, ficou perdidamente apaixonado.
Antonio já tinha vinte e seis anos, Cremilda beirava os dezoito.
Ladina, se entregou ao primeiro sorriso dele.
Daí a preocupação, se minha mãe descobre, ela me mata. (Matava nada).
A velha estava de conluio com ela, só havia uma vítima em tudo isto.
Antônio era um rapaz simpático e paramos por aí, não era bonito não, ...mas o sítio.
O sítio de Antonio era coisa de cinema.
Cremilda já se via feliz proprietária.
Se Antonio perturbasse, tomaria o sítio dele e ficaria uma descasada feliz.
O casamento para sua tristeza, não foi àquela festa que previa.
Cerimônia simples, deixaram os convidados na festa e direto para casa, amanhã teria trabalho.
Pela janela ela viu que a realidade era outra.
Seu marido a arrastava para a roça, entre mosquitos e pernilongos notou que entrara numa roubada.
Aí vieram as dores de cabeça, dores nas costas, ele não esperava, pois teria que providenciar comida, colheita e demais afazeres de sitiante.
Assim não dá, foi à cidade para fazer pequena compra, pois dinheiro ali, não se via.
Na cidade foi atendida por um rapaz que era um charme.
Dona Cremilda, se precisar levo as compras para a senhora.
A rainha renasceu, antes de chegar ao sítio já haviam viajado pelas estrelas várias vezes.
O namorico que deveria passar despercebido, mas pela constancia das visitas, foi notado pelo touro (Antonio).
A princípio como conselho, depois com certa veemência.
Porém nada valia, ela estava apaixonada pelo rapaz das entregas.
Como no caso de separação metade era dela, já começava, ela e a mãe a fazer as contas.
Viu que seria uma separação interessante.
Mas para ela que via Antonio como uma pessoa inocente, não sabia que ele era um sobrevivente.
Já havia passado por várias e boas para chegar até ali.
O primeiro acidente aconteceu.
O rapaz com as mercadorias foi pego por ladrões, coisa que não existia na época.
Tomou tanta paulada na cabeça que ficou desmiolado.
Todos acharam esquisito, mas não tinha nenhuma suspeita de que fosse crime.
Dinheiro não tinha, só roubaram as mercadorias, só podia ser andarilho.
Esta raça é problema, o que veem pegam.
Deve ter sido isto.
Cremilda ficou viúva do rapaz, chorou muito.
Para se acalmar arrumou outro.
Antonio perdeu a linha, picou-lhe o braço.
Aí ouviu um par de verdades, que ele não carregava a água suficiente para regar o jardim (entende?).
Isto o ofendeu mais que as outras coisas.
Na divisa do sítio tinha um açude largo e fundo.
Levou Cremilda para lá e colocou-a em um pequeno barco.
Navegou até o meio e falou:
-Você teve tudo para ser, e me fazer feliz.
Mas sua sede de homens rameira, não te deixou esfriar o facho.
Desde o começo sabia que você tivera muitos casos.
Enganei-me pensando que, com uma casa e marido você se concertasse.
Então hoje resolvi que vamos fazer uma jviagem amor.
Vamos dar para este povo o exemplo de que por muito amor, resolvemos morrer juntos.
Ela chorava copiosamente, na sua vida nunca tinha aprendido a amar,nem nadar.
Mesmo se soubesse, teria dificuldades pela distancia da margem.
Pediu perdão, que a partir daquele momento ia se modificar, quando viu que nada conseguia.
Ofendeu, humilhou, disse ser ele o pior que qualquer de seus amantes.
Ele suportou tudo com estoicismo, depois jogou os remos na água.
Após como se fosse uma cerimônia tirou um tampão do fundo do barquinho.
A água entrou lentamente, a mulher gritou, chorou e depois começou a rezar.
Ele sorriu e falou:
-Não era o final que eu queria, mas o que você determinou.
E foram para o fundo do açude, morar com Iara a deusa das águas.
Dizem que até hoje se vê o casal navegando pelo açude, agora repreza.

Infelizmente,
Tentamos enganar,
Até conseguimos,
Porém por pouco tempo.

Oripê Machado.



 
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 19/05/2012
Reeditado em 28/05/2012
Código do texto: T3675894
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