Febre digital

O mundo e as pessoas, parecem inevitavelmente tomados pelas máquinas e pela febre digital. Acabei de cruzar com algumas dezenas de cidadãos, caminhando, digitando ou falando no celular. Reparei nalgumas expressões quase patéticas, completamente absortas nos pequenos écrans; torcidos e curvados nos seus pequenos objetos inseparáveis. Sem se aperceberem uns dos outros, cabeças baixas e um ar de total autonomia. Alguns, com um sorriso estampado no rosto, como se sentissem donos do mundo e da verdade. Reproduzindo talvez, uma espécie de alegria efêmera e pouco duradoura. Outros, sérios e perdidos entre o digitar e o falar, quase tropeçando uns nos outros. Quando saio para caminhar, correr e me exercitar, nunca carrego máquinas. Elas me atrapalhariam totalmente no meu propósito e me deixariam atado, de pernas e braços. A minha cabeça, essa, pede permissão para ter alguns minutos de paz e concentração no meu Ser e nas coisas da Natureza. Sinto falta de me desligar do mundo artificial e competitivo das máquinas. Acho-as interessantes e necessárias, porém perigosamente alienantes. Sem elas, talvez não fosse possível viver e trabalhar no mundo atual. Afinal, elas são responsáveis por uma boa parte do nosso conforto e acesso ao conhecimento. Ao mesmo tempo que parecem ajudar-nos, também nos puxam irremediavelmente para um certo vazio existencial. Como se quisessem nos sugar boa parte da nossa energia e substituir pedaços da nossa essência. Instalando ao nosso redor, outras máquinas vorazes, mais potentes e sofisticadas. Num poderoso abraço, contínuo, asfixiante, tentador e mortal.

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 20/05/2012
Reeditado em 06/07/2020
Código do texto: T3678151
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