Fórum da Cidade baixa

Fórum da Cidade baixa
Jorge Linhaça


Participei, dia 19 de maio de 2012, como convidado, de um fórum sobre as problemáticas da Cidade Baixa, organizado pela turma de Direito da Estácio, Campus Fratelli Vitta.
Claro que, não havendo distribuição de cerveja e nem trio elétrico, o fórum estava bastante esvaziado ainda mais pelo fato de haver chovido.
Mesmo assim conseguimos reunir ali umas 40 pessoas o que foi bastante proveitoso, considerando-se o interesse que o soteropolitano, no geral, tem pela discussão de melhorias em prol de seus bairros e da própria cidade.
Havia alguns líderes comunitários, pré candidatos à vereança, alguns alunos e alguns convidados.

Do governo municipal ninguém presente, óbvio, já que discutir Salvador e principalmente a Cidade Baixa não é de interesse dos nossos empregados de luxo.

De positivo tiramos as falas da comunidade e, para meu espanto, do representante da Polícia Militar, do setor da Polícia Ambiental, Tenente Claudio, que me fez até acreditar que existe alguma PM séria em Salvador.

De resto, pau na polícia e a história centenária do "preto e pobre".

Não estranhem amigos, aqui é normal se usar "preto" ao invés de negro.
Confesso que careço de dados estatísticos mais concretos, mas esse discurso sempre me causa uma certa repulsa pois parece que não existem brancos pobres...claro que existem.

Se existem mais negros pobres do que brancos pobres em Salvador, não é de se estranhar, afinal existem muito mais negros que brancos nesta cidade.

Nos meus escassos 5 minutos de discurso, como não poderia deixar de ser, evoquei meu Mestre Gregório de Mattos, sempre tão esquecido dos Soteropolitanos e chamei Salvador de Cidade da Bahia, já que a evolução aqui não existiu desde a época do mestre do barroco. Evolução de consciência de cidadania. A tecnológica é claro que chegou como em todo o mundo.

Falei de problemas pontuais da Cidade baixa e da minha vivência nestas terras e sapequei a minha indignação pelo povo ser movido a cerveja e Axé.

Vi, de todos os lados, sinais de aprovação com sorrisos e cabeças aquiescendo, menos o de um colega que lidera movimentos culturais que apartou-me para dizer que a axé music é uma manifestação cultural afro-descendente.

Claro que corrigi imediatamente o seu equívoco. Axé music pode até ser manifestação cultural mas nada a ver com afro-descendentes. Não sei porque as pessoas tem a mania de culpar a "negrada" por tudo que não presta.

A Axé music foi criada por brancos para enriquecer meia dúzia de donos de trios elétricos.
Os maiores expoentes da tal Axé-music são Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Claudia Leite, Bel, Durval Lelis e outros que de negro não tem nada.
Existem negros cantando axé-music? Claro...mas num segundo ou terceiro escalão.
Nem mesmo Margaret Menezes emplaca fora da Bahia.
Então dizer que a axé music é fruto de uma manifestação afro-descendente é uma premissa enganosa.

Fui um dos últimos oradores deste primeiro encontro que careceu de uma certa organização mais formal mas que transcorreu de forma civilizada e cordial.

Dia 2 de junho teremos mais (estão todos convidados), o fórum há de estender-se por várias edições até que dele saia a "Carta da Cidade Baixa" que esperamos sirva de um vetor para os próximos administradores municipais acordarem para a existência deste lado abandonado de Salvador.
" E bota abandonado nisso!".

Sei que alguns hão de perguntar..."mas que diabos um paulistano, loiro de olhos azuis tem a ver com os problemas da Cidade Baixa?"

Bem...eu moro aqui e sinto na pele a problemática da região, claro que não vou me calar...se alguém pensa o contrário não me conhece.

Ser poeta, escritor, jornalista , educador é muito bom...bom demais da conta...
mas, se não serve para exercer minha cidadania, não me basta.

O rótulo de intelectual e teórico que afaga o ego de alguns, para mim não tem razão de ser se não uso meu parco conhecimento para tentar melhorar o meu entorno.

Simples assim.

Cidade Baixa, Cidade da Bahia, 20 de maio de 2012