Pensar não dói

Graças a Deus pelo GPS. É, esse aparelhinho que sabe onde estamos e nos leva ao endereço que queremos foi minha salvação nos EUA. Para quem tem problema de orientação, como eu, e se confunde dentro de Fortaleza onde nasci e me criei, quanto mais dirigir nos Estados Unidos seria uma loucura sem um GPS. Acho que não sairia nem do canto. Fiquei tão confiante no aparelho que não me preocupava em olhar para os mapas da cidade que me deram no hotel. Aliás, eu chegava onde queria e não tinha a menor noção se o hotel tinha ficado para o norte, sul, leste ou oeste. Apenas obedecia aos comandos (“entre na próxima à esquerda”, “ saia da rodovia na próxima à direita”, etc.) e não tinha nem sequer que pensar. Muito cômodo. Até que uma certa noite eu resolvi olhar o mapa e ver onde tinha ido. Interessante. Descobri tanta coisa. Parecia que um mundo novo se abriu para mim. Fiquei observando onde começavam certas ruas e onde elas terminavam. Olhei os cruzamentos, entroncamentos e alguns detalhes das vias. Engraçado, em algumas eu trafeguei sem ter a mínima noção do caminho que estava seguindo. Preocupado em obedecer ao GPS não dei conta do trajeto. No outro dia, ao sair do hotel, embora ainda continuasse usando e precisando do aparelho, lembrei-me das ruas do mapa, me situei. Agora cada estrada fazia sentido para mim. A caminhada ficou mais rica e atraente. Não havia mais aquela sensação de que estaria completamente perdido se meu bendito GPS falhasse.

Assim penso que as grandes orientações da nossas vida, pontualmente as de razões espirituais, se tornam muito fáceis e cômodas, se encontramos líderes, tipo GPS, que simplesmente digam os passos a seguir (“à direita”, “à esquerda”, “não toque nisso”, etc.) e nos desobriguem de pensar. Poderemos até chegar ao destino correto, mas o problema é que, se perdermos o GPS (Grande Pastor Sabichão), ou se ele falhar, vamos esbarrar no destino errado, sem ter a mínima noção do que fazer daí em diante. Sem falar que a caminhada será tensa e um “porre”, já que estaremos mais preocupados em ouvir e interpretar os comandos do que observar as paisagens, curtir a brisa, e perceber que cada estrada tem um inicio antes de nós e vai mais além do que podemos ver.