Morte e Vida Abacateiro

Na esquina do bar da Wal, numa rua sem nome há um resto de casa com terreno abandonado.

A costa do terreno fica em confluência com o rio Amazonas. Numa área nobre, mas enquanto ninguém resolve a natureza se incumbiu. Nasceu bem no centro do terreno um abacateiro. Cresceu, cresceu... junto com ele, ou melhor ao redor, como era de se esperar o mato tomou conta de tudo. Ali solto no dia, aquela maravilha, a árvore viçosa, dama ao vento. Muquifo de muitos pássaros. Praça das mais belas poesias imposta pela vida em sua supremacia. Quando não era um sabiá, habitava lá os bem-te-vis, pardais e curiós.

Assim a natureza, como a brisa do mar, crescia e morria. Só que nem sempre de sol se vive. Ai quando a noite surgia, vinha o drama. Rapazes na flor da mocidade, buscando auto afirmação se entocavam para a margem da sociedade usarem tudo o que era de mais proibido. Sem regras e sem vigília, o local começou salvaguardando as necessidades humanas até se tornar conhecido nas manchetes de jornais. Usuários de drogas, depois refugio de assaltantes e por fim estupros.

A moça do bar sempre reclamava a polícia, que começou a passar pelo local. Depois foi a prefeitura e depois de muito reclamar os donos mandaram capinar.

Passou um tempo, retempo e o local voltou as suas atividades esquecidas. Assalto, estupro e drogas.

Até que um dia, um transeunte apertado pelas necessidades biológicas correu para aquele local. Lá por alguns minutos, a polícia chegou acionado por alguém que não se identificou.

Não se sabe ao certo como o rapaz ficou, quando a policia entrou naquele terreno, mas os policiais vieram morrendo de rir e sem dizer nada seguiram para outro local para completar a sua ronda.

Meia hora depois o rapaz sai acabrunhado pedindo água à moça do bar, pois o coitado tinha se borrado. Parecia um boneco de cera, nervoso e todo suado.

Após receber a água o rapaz seguiu envergonhado. Depois que ele se foi o bar todo era só uma gargalhada. Foi a noticia do momento.

O abacateiro carregado calmo fazia sombra e caricias na embaubeira do lado. Passarinhos cantavam várias melodias ao final da tarde, enquanto os comentários rolavam até tudo foi ficando calado.

No outro dia é que foi...

Dilaceraram o abacateiro. Todos que frequentavam o bar ficaram consternados reclamaram do crime, que ninguém protestou.

A Wal, moça do bar testemunhou a derrubada dizendo a quem perguntava, mais ao menos assim:

- chegou um senhor com uma sacola nas mãos, entrou na área do terreno. Tirou a camisa ficando só de bermuda. Depois subiu na árvore e começou a decepar o abacateiro até ele se prostar no chão, pedindo perdão por culpa nenhuma. Bem depois ele saiu como entrou, sem dar uma palavra. Consciente do que se mandara fazer e inconsciente sim do crime que acabara de cometer.

Ainda no outro dia ela ainda resmungou:

- Se me perguntarem eu digo que não entendi. O terreno continua abandonado e cheio de mato e só quem pagou o preço de todo o pecado foi o abacateiro cheio de frutos, como se ele fosse o vilão.