“Um Golpe de Sorte”.

Desde que me conheço como gente sempre fui caçador.
Depois os tempos foram mudando e a caça cada vez foi rareando.
Mesmo sendo proibida, mas quem tem no sangue o espírito não para.
Na fazenda Aliança, a caça era proibida.
A ordem do coronel Gentil Torres, era se pegasse caçador, para tomar a espingarda e se possível segurar até a chegada da polícia.
Mas a gente era liso igual sabonete e eles nunca tinham a sorte de nos encontrar.
O filho do coronel, um tal de Vadinho, gostava de andar a cavalo pelas terras do pai.
Nesse dia, eu estava procurando uma pintada.
Seu rastro estava forte, devia estar por perto.
Eu já via aquele couro na minha pequena sala do rancho que moro.
Quando escutei o cavalo entrei no mato, pensei, depois nós continua.
Esperei ele ir embora, mas o rapaz parou embaixo de uma nogueira, parece que ia demorar por ali.
Como não podia nem ir embora que ele com certeza me veria.
Recostei num pequeno tronco e fiquei.
Logo ele vai embora e eu também, chega de caçar por hoje.
Fiquei olhando para ele, pegou um cigarro no maço e acendeu.
Agora ele vai fumar o cigarro, depois vai embora.
Enquanto esperava comecei a olhar em sua volta.
O rapaz parece que não tinha muita sorte, acima de sua cabeça, adivinhem.
Estava à malvada.
Se ela pulasse nele sua cabeça seria decepada, pois suas garras enormes não acostumavam falhar.
A minha espingarda era uma vinte oito com o cano alongado e sempre carregava com carga dupla.
A onça esperava uma posição melhor e o rapaz se movimentava, logo seria seu fim.
Era um rapaz de pouca idade, cabelo preto liso escorrido, bonito de feição.
Seus traços eram suaves e bondosos, fiquei com dó dele.
Puxei a espingarda das costas e caprichei na pontaria.
A distancia era longa, mas eu tinha certa experiência no assunto.
Quando a bicha mergulhou sentei o aço.
O tiro pegou abaixo do pescoço com certeza atravessou seu coração.
Mesmo morrendo ela cravou os dentes no pescoço do cavalo.
Com o barulho, a peonada que estava por perto chegou.
Fui agarrado e amarrado.
Logo o lugar que estava calmo, ficou cheio de gente até o coronel chegou.
Vendo a situação e a confirmação do rapaz, deixei de ser preso e passei a ser herói.
Não acreditavam que eu conseguira matar a onça naquela distancia.
Da algibeira ao coronel tirou um maço de notas que quis me entregar.
Agradeci e não aceitei, pois somos pobres, mas nosso orgulho é enorme.
Pediu para acompanha-lo e fui até a sede da fazenda.
A mãe do rapaz chorando me agradeceu e quis beijar minhas mãos.
Falei para ela:
-O que fiz faria por qualquer pessoa, mas sabiam que é muito difícil arriscar a ser preso para defender a vida de outro.
A partir daí fiquei amigo da família e sempre que dá passo por lá para filar uma boia.
Já me visitaram em meu ranchinho e às vezes sem que eu espere, aparece uma compra de mês que eu reclamo, mas como estou precisando aceito. Ele sempre fala é de coração, você merece muito mais que isto.
A gente fica orgulhoso, até na cidade todos agora me conhecem.
O caçador que salvou a vida do filho do coronel Gentil Torres.
Oripê Machado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 24/05/2012
Reeditado em 24/05/2012
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