A MINHA SIMPLICIDADE... CARLOS SILVA / EDVALDO ROSA

A MINHA SIMPLICIDADE...

Carlos Silva

Na simplicidade versativa da minha filologia, desnudo por entre versos a essência da mais bela paisagem versativa, numa viagem pelo meu sertão agrestino tão meu e brasileiro.

Sou um toco de jurema brotando por entre o gravatá da caatinga, o florescer de uma nova cantiga chamada poesia, desfilando pelas veredas abertas da minha inspiração, o dom mais sublime em descrever o meu torrão amado.

Hoje, (aquilometrado pela distância) sinto o cheiro da saudade aperfumar o meu sentido mais intimo de vontade de pisar de novo neste sagrado solo.

Em meio a violeiros tantos, rimadores, repentinos, cantantes de diversas modas entoando cultura popular em cada acorde ou nota soprada ao vento. Sou um pedaço de tudo isso, beiçando as iguarias mais gostosas do meu lugar.

Um açude, um pé de serra, um tanque grande bem maior que meu sonhar, desaguando minha meninice teimando as ordens de mamãe corretivas em não banhar-me por ali.

Ah! Saudade.

Porque teima em cutucar-me o juízo? Visto que antes, os versos de duplas como Dadinho e Caboclinho, a tocante sanfona de Josa vaqueiro do sertão, Marinês e sua gente numa lonagem de circo de rua, me faziam sonhar com o mundo das artes e do entretenimento.

Eram teatros abertos aos olhos imagináveis de vontades despertando em cada pulsar o querer ser, também eu a estar ali Arteando para o povo ver e ouvir.

Onde estão as duplas de meio de feira, o gritar estatelado do propagandista oferecendo suas ervas de tudo quanto era cor?

Onde está a infantilidade doutrora que hoje me faz passear pelas letras o meu sentir?

Se a vida é também para ser lida, elevo meu pensar nos sertões de Guimarães cheirando todas as rosas da busca.

Feito Fabiano, bebo em fontes de esperança o meu viver, evitando a secura e a cegueira do não encontrar.

Ah! Meu sertão amado, cercado de tantos diferentes sotaques e longe de refinos gramaticais, Amo a tua simplicidade sertanica e o teu jeito mais puro de ser e sentir, pois assim, mutuamente, nos completamos a cada palavra solta.

Entre o sertão e eu, não carece tanto ismo pois nos aceitamos e nos acostumamos nessa cumplicidade de ritos, mitos e gestos tão nossos, de nosso povo suado e sonhante sem exigir da vida, mais do que o necessário para viver.

A labuta bruta me basta e assim em cada pedaço de mim vivido, tenho Itamira-Ba, como fonte inspiradora do meu viver.

Independente de muitos idiotas, meu amor por essa terra, é bem maior que um mandato que se renova a cada quatro anos.

QUE VENHA 2012, (QUE VENHA O TEMPO QUE VIER) E QUE MELHOR SEJA PARA ESTA CIDADE (ESTE PAIS) E SEUS CIDADÃOS.

A minha simplicidade...

Venho das plagas periféricas da grande e cinzenta São Paulo! Nascido num tempo em que a vida era levada a ferro e fogo... A ditadura corria solta pelas ruas, armada até os dentes com porretes e rifles...

Inquieto, um dia, perguntei á minha mãe onde ela estava naquele tempo, onde chovia chumbo quente, sobre as gentes nas passeatas... Disse-me entre dentes, ( não sei se sorrindo, ou entristecida), estava procurando por mais um prato de comida á mesa!

Sei que muito cedo ganhei o mundo... Um mundo circunscrito pela força em minhas pernas...

E pelo comprimento das estradas!

Anos passados, entre o limbo do ostracismo, e a plena vivência de uma identidade, trouxeram-me quase incólume até aqui... (Feridas no peito, por não estarem á mostra, não entram no computo desta doida conta, um tanto quanto doída!)

Mas, de todo modo, vim seguindo com o tempo, munido com o que trazia dentro de mim... Conscientemente e inconsciente também... Com simplicidade!

Uns dizem-me hoje, sem uma ponta de medo na língua, que sou um sobrevivente, não por mérito próprio, apenas, mas por ter tido sorte na vida! Então sorte é isso? E ela finalmente dá as caras, e grita-me: Eu existo!

Insisto, veementemente, nada saber sobre caatingas, sobre carnaúbas, sobre juremas... Declaro ficar em êxtase com as histórias ouvidas de meu irmão Carlos Silva e seus patrícios... Histórias com aga, pois tomo-as por verdades absolutas!

Sei falar dos lixões nos arrabaldes da grande cidade... Onde procurava extrair uns trocados com as sucatas deixadas ao vento...

Sei falar das tardes, dos dias em que na represa, e em suas margens, perseguia pardais, com meu bodoque sem pontaria!

Sei falar da gurizada que descalça corria atrás de uma bola, ou das outras eximias no pião, e daquelas que jogavam queimada, pulavam cabra cega, andavam de bicicleta... (Sei falar de todas elas, mas pouco, pois era sempre apenas um expectador, paralisado, atrás dos vidros embaçados de minhas janelas...)

Fico pensando nas festas nas terras de Aporá, e cercanias, terra natal de Carlos Silva, e sonho... As daqui eram festas dos outros, para os outros... Estava sempre a parte do que ocorria...

Daí, talvez, quem sabe, o meu gosto pelas palavras e pelas poesias... Elas partem de dentro de mim... E enquanto pássaros engaiolados seriam somente minhas... (Mas não há grades fortes o suficiente para prendê-las...)

E assim, parte de mim eu gerava em silêncio... E a outra parte andava á solta por ai...

Carlos veio falar-me outro dia sobre o tal silêncio, coisa linda, abunitada, na fala do cabra da peste, que dizia assim:

“O Silencio, fala comigo, bem intimamente, e somente eu o escuto.Reflito, relembro amigos amizades,lugares e situações tão próximas na distância do meu ouvir.

Calo meu grito na mudez do meu juizo, e escuto a voz do vento a embalar as lembranças tantas já vividas em lugares tantos,já passado, repaginado hoje num presente silencioso.

As vezes somente eu escuto a minha voz, e por mais que eu grite, a sonoridade não propaga, pois, carregados de saudades estão os meus pensares, e tal qual o poeta Edvaldo Rosa, sozinho busco na companhia do meu silencio, o aconchego para entender-me. “

E ai fiquei extasiado!

O amigo do nordeste, das terras áridas, dum mundo tão cheio de penas, mostra-se tão meu igual, quase um reflexo... Somos tão irmãos, tão irmanados, não obstante termos sidos paridos em hemisférios tão distintos...

Fico pensando, com meus botões entre dedos trémulos; não sou tão simples assim... Ou pelo menos assim não me acho...

Sou o que sou... Somos o que somos... O que a vida fez da gente, o que fizeram com a gente!

E nestes dias entre sorrisos e abraços, uma voz se levanta vindo das terras de Sorrocaba; Paulo Rodrigues, tão gracioso, amoroso, me acolhe como pai... É certamente caminhos que se cruzam, rotas que convergem entre si!

E assim, pensando no Carlos Silva, penso carinhosamente no Paulo Rodrigues, penso na vida, penso em tudo, penso em mim... A minha, a nossa, simplicidade, é motivo de honra, de certa vaidade, pois nos fez assim como somos, e esta forma de ser, fez com que nós nos amassemos da forma como nos amamos...

E os caminhos, são apenas caminhos para aqueles que não sabem viver... ( Eu insisto que estou ainda aprendendo)

Seja como for, aproprio-me das palavras do Carlos Silva, pensando também no Paulo Rodrigues, para pensar sobre como pode ser simples viver, e no constante movimento que é:

“Ainda nem fui, mas o meu pensamento ja me indaga:Quando voltarás?

Mergulho em vontades tantas,que nem ouço o pisar dos meus assustados pés, no solo do meu seguir.”

Eu já não sou tão quieto e nem tão mudo... Tenho no Norte o Carlos Silva, e aqui no Sudeste Paulo Rodrigues... E muitos outros... A simplicidade assumiu outra dimensão...

Não estou preso atras de nenhuma janela, e escrevo o que penso e o que sinto, embora lá no fundo existam perguntas sem respostas...

Mas, “ Continuarei gritando, quem sabe o vento um dia ainda possa me ouvir... ”

Edvaldo Rosa

www.sacpaixao.net

25/05/2012