Ao cair da noite serana

Os feirantes já iam embora em suas carroças de madeira e ferro barato, quando ele apareceu. Com flores, desejos e um violão cor de mel, ele despejou ali toda a sua atitude juvenil. Olhou firme para a janela, imaginou a cena e começou com simpatia seu flerte intencional e medieval. Joelhos dobrados em posição de rendição, cabeça curvada e olhos fechados. O toque emotivo dos dedos nas cordas de nylon harpejava o interior compulsivo dos que ouviam e escutavam. Em meio as flores espalhadas pelo chão, ele se colocava como o jardineiro fiel, inspirado pelo cheiro sorridente das pétalas avermelhadas pela primavera.

E dizia em tom de harmonia...

Tu que és bela e se esconde

atrás das cortinas de seda , tão

brancas e puras quanto sua aura.

Mostra-me teu sorriso de princesa

bem cuidada e diga-me com teus

lábios tão dignos , se quiser que eu

vá embora.

Sem dúvida uma pintura estava sendo feita com detalhes livres e preferenciais pois afinal, a ilustre semana de arte moderna já tinha ocorrido. Uma declaração personificada, que jamais havia sido vista. E ele continuava em sua prosa...

Deixe-me ao menos ver teus

olhos e mais uma vez pintar

em mim seu olhar. Quero mais

uma vez enlouquecer, remodelar-me

em ti e eternizar-te em mim.

Como andorinha em busca de orvalho

para se refrescar, eu vim. Vejo em

ti, presença única, terra de reis, olhos

castanhos em busca do ósculo que

tenho para ti.

E o violão se calou, as rosas se foram pro além, os joelhos ficaram de pé, os olhos fechados choraram e a cabeça solenemente foi erguida. Ao mar entregou sua noite, em pranto chorou para sempre, pois um balde de água fria em cima dele, o tempo jogou.

JBorsua
Enviado por JBorsua em 25/05/2012
Reeditado em 01/04/2015
Código do texto: T3687855
Classificação de conteúdo: seguro