AQUELE ESPELHO

Aquela rua não é mais a mesma, aquela casa não é mais

a mesma casa; aquele espelho não é mais o mesmo...

Me lembro como se fosse hoje, quando ainda adolescente eu contemplava naquele espelho a beleza de um corpo, ah! Aquele rosto de traços distintos! Olhando no espelho eu quase me perdia no brilho inerente de meus verdes olhos.

Recordo-me dos belos casebres que existiam naquela rua onde eu passeava todas as manhãs. Sei que lá onde haviam pequenas casas, hoje existem grandes edifícios comerciais; minha rua, ah! Hoje uma larga avenida de tráfego intenso!

Ainda me lembro de meu espelho onde eu admirava meus cabelos pretos, lisos e cheios de vida, hoje após uma vida inteira esses negros e lisos cabelos se tornaram brancos e sem brilho...

Hoje já velho e solitário, não vejo prazer em admirar meu rosto no espelho, pois me assusto!

Meu prazer é caminhar pela rua do asilo onde passo a vida esperando o fim dos meus dias, tal rua fica perto da avenida onde eu vivia feliz com meus familiares há muitos anos atrás.

Numa manhã de sol radiante, durante uma caminhada rotineira passei pela avenida da saudade em frente ao número onde ficava minha pequena casa, hoje um edifício executivo, toquei com a bengala em algo que brilhava, era um pedaço de espelho no chão, abaixei-me com extrema dificuldade apanhei aquele pedaço de espelho já trincado, talvez por tantas vezes ter sido pisado pelas pessoas...Olhei para ele e vi como que numa tela de cinema toda minha vida passar diante de mim...O velho espelho dos tempos de narcisista mostrava-me o quanto eu era jovem, belo e feliz, mas só conseguia enxergar a beleza efêmera de meu corpo e não valorizava as pessoas que me amavam.

Hoje o que vejo neste espelho trincado é que estou no entardecer de minha vida e vivo solitário. Na juventude pensava ser o centro das atenções, era egoísta! Joguei o espelho no chão e pisei também nele. Por quê? Talvez apesar de seus trincados por ele ter me mostrado a verdade que eu já conhecia: Eu fui amado e fui indiferente. Hoje não vivo totalmente só, pois tenho uma companheira que estará comigo até o fim de meus dias: Minha inseparável bengala...

MARCIO ZANNOVITCH
Enviado por MARCIO ZANNOVITCH em 31/05/2012
Reeditado em 04/07/2017
Código do texto: T3698338
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