SAUDADES DO NINÔ
 

 
 
                    Dizem os mais esclarecidos que não se devem contar causos, piadas ou fatos referindo-se a si próprio, um parente ou um amigo,  principalmente se estão ausentes.
                   No entanto penso que cometemos um equívoco quando deixamos de contar um causo ou um fato hilariante ocorrido com pessoas a nós ligadas por laços consangüíneos ou não, se isso é para lembrar um momento feliz ou enaltecer a pessoa desse ausente.     
                   Nesta crônica vou contar esse um causo bem hilariante que aconteceu comigo há muitos anos lá em Ilhabela, no Bairro do Perequê, na estrada que vai até o Poço da Jaqueira. Nela o meu objetivo é justamente recordar com saudade um primo irmão querido e elevar o seu. Na minha mente a imagem desse primo irmão tão querido que já partisse para a outra morada no infinito permanece intacta.
         Para todos os meus leitores e amigos divulgo pelos quatro cantos a minha origem praiana de São Sebastião – SP. Por essa razão, desde 1.967 quando vim para São Paulo – Capital, como tantos migrantes tentar a sorte. E quando surge uma oportunidade escrevo um poema, uma música ou algum texto reportando-me às minhas origens, uma vez que não posso descer a serra sempre.
                    Na Ilhabela, bairro do Perequê, no caminho das Cachoeiras da Água Branca e da Toca, morava o meu primo ANGENOR SILVA, muito amado e querido por todos nós. Eu particularmente amava esse que era muito mais do que primo. Era meu irmão.
                         Ele que era carinhosamente conhecido por todos como NINÒ era proprietário de um estabelecimento comercial com o nome BAR REDONDO, em virtude de ter esse formato. Na realidade era um quiosque de madeira, coberto de sapé, muito aconchegante e pitoresco. Nos fundos e nos lados do REDONDO moravam os irmãos mais novos do NINÔ, bem como ele, sua esposa SANDRA e seus filhos RAFAELA e AGENOR JR..
                    Todas as vezes que eu pretendia descer até a praia a passeio de férias ou a serviço o NINÔ fazia questão de que eu e minha família nos hospedássemos em sua casa.  Eu, minha esposa e os meus filhos ainda pequenos sempre que possível aceitávamos esse tão generoso convite.
                    O NINÔ era muito alegre e brincalhão. Vivia de bem com a vida. Tinha uma presença de espírito extraordinária. Sem pestanejar respondia a tudo com um baita sorriso de gozação, porém sem jamais ofender ou ferir quem quer que fosse. O seu senso de humor era de causar inveja. Nunca, em nenhum momento, desde quando éramos crianças e vivíamos brincando juntos nunca o vi mal humorado. Nunca soube que brigou com alguém ou se meteu em alguma confusão.
                    Numa dessas viagens em que nos hospedamos na sua casa, ficamos por uns dez dias. Digam-se de passagem, dez dias maravilhosos. Até agora lembro com saudade o carinho e a hospitalidade com que éramos tratados. 
                    Nas minhas orações sempre rogo a Deus para colocar essa alma no melhor lugar que possa existir no céu. Esse meu irmãozinho querido foi embora e já não está no nosso convívio fisicamente, porém sempre está muito presente no nosso coração.
                    No dia em que viemos embora, depois de tantas festas, tantas brincadeiras, pescarias, passeios, comilança total, ao nos despedir o NINÔ do lado da SANDRA e dos filhos me olhou de frente, com aquele ar de sério, com uma fisionomia chorosa falou:
          - Tininho, Rosa, vocês vão embora agora e vão deixar um vazio tão grande! 

          - Nem sem como nós vamos suportar.
                    Eu, a minha esposa e os meus filhos falaram quase ao mesmo tempo.
               - Nossa Nino, não fique triste assim, pois logo voltaremos. 
                     No que ele falou agora sorrindo e de forma diferente.
          - Vocês vão deixar um vazio tão grande na dispensa, na geladeira de casa e no freezer do bar. Acho que vou ter que trabalhar dobrado pra recuperar o preju. 
                    Claro que ato contínuo nos abraçou desculpando-se pela brincadeira. Assim era o Nino. Homem enorme de 1,90m de altura com um coração de criança. 
                    Os outros amigos e parentes que estavam ali por per perto para também se despedir da gente se estouraram de tanto rir. 
                    Infelizmente passado alguns anos ele desencarnou [morreu]. Sofreu um AVC. Desta forma não consegui mais ir à Ilhabela. Chego só até São Sebastião. Termina a minha estadia volto dali. Ainda que tão carinhosas sejam a Sandra e a Rafaela. O menino mais novo era bebê eu hoje nem me lembro bem dele fisicamente. 
                    Vez ou outro quando estou em São Sebastião eu encontro-me com a Sandra, que quase sempre nos convida e até reclama achando que nos recusamos em ir. Mas ela sabe que realmente ainda não deu certo. Além disso, a Cynthia nossa filha, sendo especial requer mais atenção e quase não nos sobra tempo para viagens.
     Existem também outras circunstâncias e hoje em dia a travessia de balsa está cada vez mais complicada.
           O nosso eterno carinho por esse jovem AGENOR SILVA, caiçara de Ilhabela, corintiano roxo acaba nos fazendo suspirar:
Ah! Que saudade do NINÔ esse irmãozinho tão querido.

 
( CLEMENTINO, o poeta de São Sebastião – SP/BR )