O QUE VÍ DA VIDA

Não sei o que ví da vida. Mas acho que vi pés descalços, correndo felizes, levantando poeira, brincando de pique-esconde; Ví também crianças brincando de boca de forno, o boi da cara preta, anelzinho dourado...

Meninos que não eram menores de rua, mas meninos felizes com o pouco que tinha, com o chinelo de dedo, com a roupa de domingo, o sapato engraxado, o laço de fita.

Vi meninos subindo em arvores, com medo de coruja, tomando banho no rio, numa água gelada que só mesmo o puro e inocente prazer de esta ali era o suficiente.

Conheci crianças que tinha medo do lobisomem , da mula-sem- cabeça, do velho do saco, da mulher barbada...

Vi as missas de domingo, a roupa de linho, o vestido engomado, o perfume barato...mas o que importava é que tava “cheiroso” para se apresentar ao Sr. Padre.

Vi o casamento arranjado porque o rapaz tinha “tirado a menina de casa”.

Vi o rio que em tomávamos banho durante os piqueniques que fazíamos quando criança virar apenas um veio de água lutando pra sobreviver.

Vi amigos indo embora, grandes amigos chegando, vi nascimentos, passei pela dor de enterrar um amigo, um parente.

Vi os filhos nascerem e crescerem, saudáveis.

Vi a vida nas mãos do bandido, e o socorro imediato de Deus, que me salvou.

Continuo vendo a vida todos os dias, em cada vitoria que alçanço, em cada derrota que me ensina, em cada amanhecer.