Afinal: O Que Envolve " Ser Poeta"?

Afinal: O que envolve “Ser Poeta?”

Jorge Linhaça

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não sou nem me considero dono da verdade.

Outrossim, gosto de pensar, avaliar, considerar, comparar, perceber e organizar minhas ideias.

Uma das maneiras de fazer isso é escrevendo, pondo no papel aquilo que penso por agora.

O título de poeta sempre me causou, e principalmente na era atual, certa estranheza já que tantas coisas distintas podem receber o nome de poesia, portanto vários tipos de pessoas passam a serem intitulados poetas, independente do rumo de suas obras.

Mas não quero me ater ao estilo literário de cada um, isso não é realmente um incomodo e acho bastante salutar tal diversidade.

O que me faz refletir é a ação poética em si. Para que serve a poesia? Apenas para entreter?

Poetas são considerados por muitos como parte integrante de uma elite intelectual, capaz de com seus versos despertar emoções e tocar a alma dos leitores.

O poeta é um artista das palavras, um filósofo dos versos, é?

Até que ponto?

Permito-me pensar no papel do poeta diante da sociedade. Que papel é esse?

Deve o poeta ocupar-se apenas de temas recorrentes buscando a beleza pela simples busca da beleza, a popularidade pela simples popularidade?

Não tem o poeta, ser pensante e capaz que é, o dever de procurar intervir na sociedade, através de seus versos, levantando justas bandeiras e buscando conscientizar seus leitores sobre a realidade que nos abarca no dia a dia?

Vejo poetas declarando-se fãs de Neruda, Castro Alves, Quintana, Leminski e outros, alguns poucos admiram Bocage e Gregório de Mattos. Outros gostam de Augusto dos Anjos e por aí afora.

O interessante é que todos estes foram críticos, cada qual a seu modo, das mazelas da sociedade, cada qual trabalhou a seu modo para tentar mudar a realidade de sua época.

Estranhamente, aqueles que os admiram, agarram-se aos versos de amor e de saudade como se disso dependesse a sua vida literária ou física.

Raros são os poetas contemporâneos, isso entre os reles mortais que dividem espaço conosco no mundo virtual que se arriscam a enveredar por temáticas mais sérias, expor suas ideias sem medo da reação adversa que isso possa despertar nos seus leitores.

Segundo a minha percepção, dessa maneira perdemos a oportunidade de fazer a diferença junto a um público eclético que toma contato com nossos textos.

Mas, como eu disse, não sou dono da verdade, apenas opino sobre o que considero interessante que possa ser repensado e avaliado pelos colegas de letras em relação à nossa responsabilidade com nossa sociedade.

Salvador, 03/06/2012.