MEU CACHORRO REX

A data foi por volta de 1972, quando resolvemos criar um cachorro que era uma mistura de vira-lata com o pastor alemão. Nasceu com o focinho do pai, mas muito peludo e sem rabo, que lhe conferia muito charme. Quando pequeno, sua barrigazinha arrastava pelo chão. Metia-se debaixo dos lugares mais difíceis, e depois tínhamos que tirá-lo com o cabo da vassoura. Isso o deixou traumatizado. Se alguém apontasse uma vassoura na sua direção, certamente que avançaria no desavisado. Era de fato, um belo cão; seu pelo longo, negro e brilhante formavam cachos em seu lombo. Adorava sorvete, pão com manteiga.

Certo dia, machuquei o dedo, cortando carne. Levei dois pontos acima do polegar esquerdo. Até ai nada de mais, mas quando fui ao hospital para pontear, ele escapuliu e nos seguiu até lá. A cena foi cômica quando entramos, ele invadiu o hospital, indo parar no berçário. Foi um vexame total. Minha mãe teve que ficar do lado de fora, caso contrário ele não ficaria quieto.

Ele não era de muitas aventuras, mas um dia ele resolveu fugir de casa. Nós iríamos passar uns dias em Itamaracá, e nada de encontrá-lo. Eu e minha mãe saímos para procurá-lo e, depois de um bom pedaço de tempo o encontramos no meio de muitos cães. Ele estava faminto, sujo, e com as patas feridas. Consegui pegá-lo e levá-lo para casa. Ao chegarmos, foi uma festa, demos banho, comida, tratamos suas feridas, e sentimos que ele estava contente por ter voltado para casa.

Um dia, Rex adoeceu. Teve câncer no pescoço. Tivemos que sacrificá-lo. O veterinário disse que ele não tinha mais jeito, poderia enlouquecer de dor. Foi uma pena. Uma grande pena.