Nessa  semana em que a ONU celebra o dia mundial do meio ambiente, coincidentemente, hoje, 7 de junho, quinta feira, a Igreja Católica celebra a festa do Corpo e Sangue de Cristo. Aqui na minha cidade e em muitas outras, se fazem procissões ou  outras concentrações coletivas para honrar a eucaristia.
Ainda são poucos os católicos que percebem: ao manifestar sua presença no convívio afetuoso em uma ceia e especificamente nos elementos do pão e do vinho, símbolos de todo o universo, este se torna assim um imenso corpo cósmico do Cristo. 
É preciso que todas as tradições religiosas fortaleçam a dimensão ecológica da sua espiritualidade. É na comunhão com a terra, a água e todos os seres do universo que encontramos a Deus e, podemos testemunhar o que escreveu Paulo: “quando todas as coisas estiverem sob o projeto e como o Cristo quer, então também esse estará plenamente em Deus e, então, Deus será tudo em todos os seres” (1 Cor 15, 28).
Espiritualidade é o dom da pessoa dar um sentido novo à sua vida. Quem é cristão acredita que isso é dom do Espírito que nos conduz para isso. Mas, seja a pessoa religiosa ou não, espiritualidade é um caminho de amor. Assim, os cuidados com o meio ambiente tem toda uma perspectiva espiritual.
 
Por formação ou falta dela a maioria das pessoas confundem espiritualidade com espiritualismo e por isso têm uma visão espiritual que vem mais da antiga filosofia do estoicismo e do platonismo grego do que do evangelho ou das tradições espirituais asiáticas. Espiritualidade não é espiritualismo, não é moralismo, nem legalismo. Nem mesmo podemos identificar espiritualidade com religião. Espiritualidade é ou deve ser a alma da religião, o seu núcleo mais profundo. Seria como um cálice de vinho muito saboroso. A religião é o cálice e a espiritualidade é o vinho. O vinho se bebe naquele cálice ou se pode beber em outro. Para os cristãos, espiritualidade vem da revelação divina. A religião é humana. É um método. Pode ser importante e muito bom, mas não é absoluto nem único. Hoje se fala em espiritualidade transreligiosa e até não religiosa.
 
A maioria dos exegetas e estudiosos/as de Cristologia estão de acordo que Jesus não falou tanto de si mesmo. Ele falou mais do projeto de Deus no mundo, do que ele às vezes chamou de vontade do Pai e outras vezes de  reino de Deus. Ora, penso que muitas vezes as Igrejas falam muito de Jesus como objeto de adoração, como figura (ícone) divina, a qual as pessoas rezam e isso é válido, mas o mais importante é seguir a proposta dele e realizar no mundo o que ele quer que façamos: “Procurem o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais virá por acréscimo” (Mt 6, 33). O evangelho diz: é pelos frutos que conhecereis a árvore e podereis dizer se ela é boa ou má....
 Para mim, o reino de Deus vem transformar todas as estruturas do mundo. Então provoca mesmo um terremoto, uma revolução. No Apocalipse, a última palavra direta dita por Deus, aliás,  a única que o Pai diz diretamente nesse livro é “Faço novas todas as coisas”.
Mesmo no meio das ambiguidades e fragilidades que todos nós vivemos, é preciso buscar a coerência interior e a permanente evolução pessoal, passar do egocentrismo para o cosmocentrismo... Assumir o mundo como sua casa e extensão do seu corpo...
A nossa atenção estará voltada, nos próximos dias, para o planeta Terra. Como disse Leonardo Boff, num jogo de palavras, a gente não quer apenas “meio” mas o ambiente inteiro.