Meu Amigo Tomahawk

Esse cara é bem abusado e não me meto com ele a troco de nada. Prefiro ser seu amigo. Até porque ele é sempre manipulado e recebe ordens que nunca são contrariadas. Muito menos por ele. E são ordens poderosas.

Trata-se do meu amigo Tomahawk. O Tomahawk é um míssil cruzeiro de longo alcance. Concebido a partir de 1970 é considerado um míssil de baixa altitude e que pode ser lançado de uma plataforma na superfície. Tem sido várias vezes aperfeiçoado, sendo agora fabricado pela Raytheon. Alguns Tomahawks foram também fabricados pela McDonnell Douglas (Boeing Defense, Space & Security). Coisas lá da matriz, com a qual tenho me dado muito bem.

Meu amigo pertence a uma família de vários tipos de mísseis subsônicos, com poderosos motores a jato, destinados ao ataque a diferentes alvos na superfície. Embora algumas plataformas de lançamento tenham sido utilizadas, o mais comum é o uso de plataformas no mar, tanto em navios quanto em submarinos.

Evidentemente trata-se de um cara sofisticado. E que está sempre se aperfeiçoando. Um desses aperfeiçoamentos é a sua capacidade do uso de dados a partir de múltiplos sensores (aeronaves, satélites, tanques, navios e acho até que sapatos dos soldados) para a localização dos seus alvos. Veja bem que nada escapa dele. Sou por isso seu amigo. Ele atua também no envio de dados a partir dos seus sensores para as plataformas de lançamento ou postos de comando.

Se necessário, um Tomahawk pode ser redirecionado para um alvo alternativo. E pode ser reprogramado no ar para o ataque a alvos pré-determinados (ainda bem que não me chamo Álvaro), através de coordenadas armazenadas em seu GPS ou através do uso de quaisquer coordenadas GPS. Ele pode também re-encaminhar ao posto de comando (aquele cujas ordens às vezes ninguém entende, mas ninguém questiona – e não vai ser eu que vou entrar nessa) dados a respeito do seu status.

Em maio de 2009, a Raytheon Missile Systems propôs um “upgrade” ao Tomahawk Block IV, míssil cruzeiro de ataque terrestre, habilitando-o à destruição de grandes navios de guerra a 900 milhas náuticas (1,7km) de distância. É mais ou quer menos? Sem falar na capacidade que tem qualquer Tomahawk de atingir vários Álvaros ao mesmo tempo.

Vejamos agora duas pequenas particularidades que atestam o grau de sofisticação desse meu amigo:

(1) TERCOM (Terrain Contour Matching) – uma representação digital da área de um terreno é mapeada com base em dados digitais da topografia do terreno ou numa imagem em estéreo. O mapa é então introduzido na memória do míssil. Uma vez no ar, meu amigo compara os dados nele armazenados com os dados altimétricos obtidos pelo radar durante o seu vôo sobre a região mapeada. Com base em resultados comparativos, a navegação inercial do míssil é atualizada e o seu curso corrigido. Isto é, numa determinada região você vai ser encontrado de qualquer maneira, ainda que meu amigo comece inicialmente errando na procura. Isso é bom, pois quando for pra me salvar, ele me acha.

(2) DSMAC (Digital Scene Matching Área Correlation) – uma imagem digital de determinada área é introduzida na memória do míssil. Durante o vôo, meu amigo verifica se as imagens nele armazenadas se relacionam com as imagens que ele vê lá embaixo. Então, novamente com base em resultados comparativos, a navegação inercial do míssil é atualizada e o seu curso corrigido.

O custo total do programa de mísseis Tomahawk deve ser da ordem de $US 11,210,000,000 (11 bilhões e 210 milhões de dólares). O que não é nada, pois, como sabemos, uma grande amizade não tem preço.

Mas aí vem o chato do Noam Chomsky e escreve em seu livro World Orders, Old and New, às pg. 16/17, o seguinte:

“No dia 26 de junho de 1993, o Presidente Clinton ordenou um ataque de mísseis sobre o Iraque. Vinte e três mísseis cruzeiro Tomahawk foram disparados contra um setor de inteligência no centro da cidade de Baghdad. Sete mísseis erraram o alvo, atingindo uma área residencial. Oito pessoas foram mortas e doze ficaram feridas. Entre os mortos encontrava-se a conhecida artista Layla al-Attar e um homem que levava o filhinho no colo”.

Ninguém precisava saber que eventualmente um Tomawak também erra seus alvos.

De qualquer modo, nas mesmas páginas lemos a declaração do Secretário de Defesa Les Aspin, explicando que, em que pese inevitáveis falhas técnicas, “a maior vantagem dos mísseis é que eles não expõem os pilotos americanos a qualquer tipo de risco”, como nos bombardeios comuns. Apenas os cidadãos iraquianos. Do que se conclui que os Tomawaks sabem escolher as suas amizades.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 07/06/2012
Reeditado em 08/06/2012
Código do texto: T3710350
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