CHAPÃO ENFRAQUECE A DEMOCRACIA DE GOIANÉSIA

Ainda habitando o terreno da utopia, a possibilidade de um chapão embarcando PMDB, PSDB, DEM e seus satélites, mereceu comentários e cochichos em mesas de bares e em corredores de Goianésia. Não há muitas chances da ideia se materializar neste pleito. Mas não podemos esquecer que existiu uma reunião, em Goiânia, envolvendo Gilberto Naves, Frederico Jayme, Giovani Machado, Helio de Sousa, Jalles Fontoura, Otavinho Lage e Vilmar Rocha. Em pauta: um inédito e pitoresco acordo, no qual a eleição de 2012 seria um faz de conta.

Os partidos se uniriam e lançariam uma chapa mista para prefeito e vice. Em 2014, os neoaliados bancariam um único nome para deputado estadual e, principalmente, tentariam fazer novamente um deputado federal. Jalles Fontoura foi deputado federal constituinte, de 1987 a 1990. O discurso oficial é o da união das forças por Goianésia. Do amadurecimento político.

Vejo com bons olhos os principais conglomerados políticos da cidade realizarem uma mesa-redonda. Tomarem um café enquanto discutem as principais agruras de Goianésia. Isso é sinal de amadurecimento político. Agora, formalizarem um chapão é retrocesso, é voltar a bater pedras em cavernas. Vivemos um regime democrático no qual se pressupõe a existências de pelo menos duas correntes políticas.

Os que os líderes políticos de Goianésia propõem é simplesmente acabar com o debate das ruas, suprimir a voz do povo e decidir o futuro da cidade entre quatro paredes, com a cabeça de seis ou sete notáveis. É a proposta do voto indireto. A volta do prefeito biônico. Ao povo caberá apenas a homologação do prefeito, eleito três meses antes pelos cardeais da política local. Em junho, sentam, tomam um café e decidem pelos candidatos a prefeito e a vice, contemplando as duas principais forças. Tudo a 160 km de distância dos principais interessados, o povo de Goianésia.

A concorrência melhora o produto. O debate fortalece o pleito. Com candidato único, pra quê campanha? Quem vai cobrar quem? Quem encarnará o fiscal? É a destruição do advento da oposição, que em tese, faz vigília buscando apontar erros de quem está no poder. A ideia de um mutirão de forças trabalhando por Goianésia é uma grande ilusão. Todos já fazem isso, mas cada qual em seu papel. É interessante eleger um deputado federal? Sim. Que se configure a união para esse fim daqui a dois anos. Isso é amadurecimento político.

Confesso que me assusta a ideia. Goianésia que sempre se notabilizou pela forma como é praticada a política, em alto nível, não merece um passo atrás como este. Que o surto coletivo pelo qual foi acometido nosso panteão político fique apenas no terreno do delírio. Que seja uma anedota para se contar e consumir em mesa de bar. E nunca em mesa de gabinete.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 07/06/2012
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