O PERDÃO DO HOMEM E O PERDÃO DA MULHER

Uma vez eu escrevi que, dentre os mandamentos da Lei de Deus, o mais difícil de ser cumprido era o do perdão. Na época, eu coloquei que perdoar da boca para fora, ou aparentemente, é fácil. Aliás, é até cômodo, dependendo da ocasião. Porém, da boca para dentro, ou seja, perdoar com o coração (ou com o sentimento), é extremamente difícil.

Citei alguns exemplos, dentre eles, aquele em que o perdão é dado – independente do motivo –, mas na hora em que nos deparamos, vindo em nossa direção, com aquele que, supostamente, nós perdoamos, se pudermos desviar o nosso caminho, para não termos de cumprimentá-lo, nós fazemos isso até com certo prazer (no íntimo, fazemos isso como se estivéssemos punindo, com aquele ato, àquele que nos magoou – apesar do perdão que nós demos). Da mesma forma, quando sabemos de uma notícia ruim, de algo que aconteceu com alguém que nós perdoamos por nos ter magoado, nos ferido ou nos apunhalado, imediatamente dizemos: “bem feito, isso é para ele pagar o que ele me fez!”

Então, diante disso, eu sempre me questionei com relação ao perdão. Em mim há sempre uma pergunta insistente, capaz de me levar a refletir criticamente sobre a prática do ato em si – seja ele praticado para, em pedindo o perdão, ser perdoado; seja ele cometido para, se possível, receber o perdão, sem nem ser preciso pedi-lo, coisa que escuto, de vez em quando, através dos ensinamentos bíblicos: “Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Ora, eu vos digo: não ofereçais resistência ao malvado! Pelo contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a acompanhá-lo por um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir, e não vires as costas a quem te pede emprestado”. (Mateus 5,38-42). Afinal, podemos perdoar verdadeiramente a quem nos fez o mal?

Bem, do ponto de vista do cérebro humano – onde se encontra toda a capacidade racional (coerente, consequente, lógica, natural, etc. e tal) e emotiva (descontrolada, impulsiva, temperamental, etc. e tal), conversando com o professor doutor em neuropsicologia Daury Lima (A neuropsicologia é uma interface ou aplicação da psicologia e da neurologia que estuda as relações entre o cérebro e o comportamento humano, contudo praticamente dedica-se a investigar como diferentes lesões causam déficits em diversas áreas da cognição humana, ou tal, como denominado pelos primeiros estudos nesse campo, estuda as funções mentais superiores – Wikipédia), e falando, justamente, sobre mágoa (um descontentamento), raiva (sentimento passageiro), rancor (sentimento prolongado) e ódio (o oposto do amor – a raiva na sua plenitude), eu disse que não nutria, por muito tempo, nenhum sentimento nocivo à minha pessoa ou a nenhum de meus semelhantes. Entretanto, continuei a dizer, na conversa, que tenho muita dificuldade de esquecer, perdoando-as, algumas pessoas que fizeram algo prejudicial a mim.

Ele me olhou e eu, para justificar aquilo que acabara de dizer, contei-lhe sobre o comportamento de algumas pessoas que procuram subir profissionalmente nas costas de alguém; de outras que costumam viver a vida de quem elas escolheram para "atormentar" – muitas vezes até inconscientemente, esquecendo-se de desfrutar a própria vida; de uma boa parcela que erra continuamente e sempre espera que seus erros sejam perdoados e, em sendo, volta a errar, tendo como pretexto o ditado popular: “errar é humano”, porém sem querer verbalizar a segunda parte dele: “persistir no erro é burrice”; enfim, coloquei essas justificativas para dizer que tenho muita dificuldade de perdoar verdadeiramente.

Quando acabei de falar, ele me perguntou: sabe qual a diferença entre o cérebro feminino e o cérebro masculino, do ponto de vista do perdão? Claro que eu não sabia, por isso, eu balancei, negativamente a cabeça, já curioso pela resposta.

- Meu caro, a diferença consiste no fato de que o cérebro masculino, na questão do perdão, apenas esquece o que lhe magoou. Porém, no próprio momento em que vê quem provocou a mágoa, tudo volta à tona e ele percebe que, na verdade, não perdoou.

Tem lógica. Inclusive, os primeiros exemplos dados simbolizam isso perfeitamente, pensei. Diante da explicação abalizada do Dr. Daury, fiquei mais curioso ainda, pois, se a mulher age de forma diferente e pensa sempre o contrário do homem, logicamente, a explicação, de como se dá o seu comportamento, após ser submetida a algo que a decepcione ou indigne, seria invertida. E foi.

- Agora, com relação à mulher, só é preciso alterar a ordem: a mulher perdoa a quem a magoou, porém nunca se esquece do motivo da mágoa causada a si.

No final da nossa conversa, eu fiquei pensando como somos suscetíveis às intempéries do nosso comportamento em sociedade, apesar de termos percepção suficiente para entendermos que tudo feito com amor e para o amor, retorna, com o mesmo valor, para todos nós.


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Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 10/06/2012
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3715774
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