As pérolas de Maria Eduarda e outras histórias

Todos os artistas no palco do início ao fim do espetáculo. Treze músicos e um metido, que era eu. Somadas as horas de todos em frente a públicos dos mais diversos, passaria fácil de mil, e o clima era de total tranquilidade no Centro Cultural de São Bento do Sul lotado. Sempre me senti protegido por plateias, até tentar encher um copo d’água e acertar tudo, menos o copo. Com cara de socorro, olhei para Reinaldo Voltolini e Ivana Lampe, os “Quixotes” que apoiaram a ideia assim que nascera; ele agia igual a galo velho em seu terreiro, mas a veterana Ivana, baixinho: “Estou nervosa”. Se ela estava assim, eu não conseguia mais nem segurar a garrafa! Aí o Vitor Buchmann cantou uma modinha e o povo de todas a idades, o acompanhou: o Semeador, que foi como batizamos o evento, dera certo! Ao seu final, o palco cercado e invadido e o povo já pedindo mais uma edição; o que era para ser apenas uma apresentação de poesia e música, nascera para crescer. Nesta quinta-feira, a nona edição, com 35 novos e velhos artistas, cada um a seu modo, semeando arte e doando o fruto de seu trabalho.

Se nada, nesse tempo, tivesse valido a pena, as pérolas de Maria Eduarda validaram tudo. Tinha uns quatro, cinco anos e tive o privilégio de abrir e fechar a edição “Gerando Amor” com ela e outras crianças. Lindos negros olhos, linda negra pele, linda aura de carinho que emanava dela; parecia feita para trazer beleza e paz, e acho que é isso mesmo.

Todas as vezes, na primeira fila, lá está Juliano. A alegria e o entusiasmo que superam as dificuldades de uma paralisia cerebral na hora do parto e aquele sorriso de “adoro o que vocês fazem” são combustível impagável. Suas palmas valem milhões de aplausos.

Na oitava edição, o tema era “Mulher”, e Lair Bernardoni cedeu suas fotografias para a decoração. Traduziu seu encanto: “Parece que vocês, em casa, se reúnem para cantar e declamar”.

Num ano, o tempo passava e nenhuma instituição aceitou o desafio de participar de forma efetiva. “Quixotes”, novamente: Ivana e eu resolvemos tocar o bonde. Com apoio da Fundação Cultural – que sempre foi alicerce -, um patrocínio especial do Samae e a colaboração das empresas, comprando ingressos, lá fomos nós. Compra de cadeiras de rodas era o objetivo. Arrecadamos o suficiente para uma de qualidade. Por interferência do grupo “O Tempo não Para”, a fábrica vendeu três excelentes pelo preço de uma. Na hora da entrega, um dos agraciados: “Agora posso ir pra roça sozinho”. Semear, talvez.