Leio “O pequeno príncipe”

Conhecedor, sem dúvida, discorria com facilidade sobre diversos assuntos culturais e era bem agradável ouvi-lo, mas tinha uma dificuldade enorme em analisar o tema proposto. Abordou facetas várias, sem qualquer anotação, seguindo apenas sua farta bagagem, mas o tema da palestra foi mencionado apenas de passagem. Se valeu a pena? Claro que sim, especialmente para quem gosta de “viajar” no conhecimento.

Na segunda palestra dele, outro título, algumas novas informações, papo gostoso e rico. O assunto? Se havia, ele não foi avisado. Repetiu-se um pouco e, especialmente, repetiu o que disse no papo anterior: “Se alguém de 9, 10 anos lê “O pequeno príncipe”, está ótimo; já, se o faz aos 30 ou 40, tem alguma coisa de errado com ele”.

Sabia de algumas coisas erradas comigo, que estou nos 60, agora acrescento mais esta: ler “O pequeno príncipe”. Não é meu livro de cabeceira, mas já passou por minhas mãos uma dezena de vezes, assim como outros livros que para o mau observador, são apenas “infantis”. Aliás, na semana passada acabei de reler “As Aventuras de Huckleberry Finn”, um livro de aventuras de um adolescente. Desta vez me aventurei a desvendar uma edição americana para desenferrujar um pouco meu inglês. Retratando umas cinco formas diferentes de falar o idioma - e Twain mostra bom conhecimento sobre cada uma delas - acaba sendo um exercício e tanto, e a história nunca deixa de entusiasmar, além de conter uma análise sutil do escravismo e sua relação com a religiosidade e a pretensa hospitalidade do sul dos Estados Unidos.

O universo da literatura infantil é riquíssimo e muito mais universal do que outros gêneros, pois as crianças carregam o mundo dentro de si e têm a coragem de pintá-lo com as cores da fantasia e acho que é daí que vem a palavra “fantástico”. Para escrever para crianças, o autor deve saber entrar nesse universo e nele se comunicar, o que é um desafio que só adultos muito capazes conseguem superar. Saber ler isso, sendo adulto, requer maturidade, ao contrário do que pensam alguns intelectuais.

Melhor ter 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100 anos e ler “O pequeno príncipe” do que matar a criança que temos dentro de nós.