Os últimos momentos de um homem

As últimas palavras de um homem são aquelas que os outros carregam por toda a vida. E a alma, por toda a eternidade.

Por muito tempo, me disseram que o que tornava alguém forte não era a falta de medos. E, sim, a capacidade de enfrentá-los. Quando finalmente entendi essas palavras, já era tarde demais. Considerar a vida como uma dádiva sempre fora uma de minhas metas, até o fatídico dia em que as coisas perderam o sentido.

Era como se parte de mim tivesse sido roubada, e uma estocada no peito arrancasse tudo o que ainda me dava forças. Perdi algo precioso. Algo que costumava chamar de fé. Foi quando percebi que nada mais fazia sentido. Nada do que eu tentasse ajudaria, pois, no final, era tudo um enorme vazio... Vazio, esse, que viria a me consumir, e a consumir outras pessoas. Vazio coberto de medo e dúvida, que invadia o interior do ser causando-lhe muito mais do que apenas... dor. É algo muito mais forte, algo além do imaginável, e, principalmente, inevitável.

A falta de objetivos me levou a uma busca por algo maior, algo além da conquista. O que antes parecia apenas uma desilusão da vida, se tornou uma forte ambição. Durante todas as etapas da eternidade, não houve sequer uma criatura pensante viva que tivesse obtido uma explicação para o fim da maior das obras do universo: a vida. Porém são apenas nos momentos mais alarmantes que a morte começa a se tornar atraente. Não chamaria a vontade de morrer de desperdício. Chamaria de virtude, baseada na coragem para ir atrás daquilo que está além da compreensão de qualquer ser humano.

Para se tornar um verdadeiro guerreiro, é preciso enfrentar seus medos. Um dos meus maiores era esse. A morte. Suicídio? Não. Diria apenas "morte em combate". O combate entre o meu próprio consciente material e o meu subconsciente espiritual, que aguarda ansiosamente pelo seu despertar.

Já ouvi muito dizer que a alma é eternamente perturbada pelos sentimentos tidos poucos momentos antes da morte. Se assim for, minh'alma estará tranqüila, pois não será a lâmina dessa espada que incomodará o descanso de meu espírito. Cada suspiro representará parte do que sou. Cada gota de meu sangue jorrado representará parte do que eu fui. Cada gemido de dor representará aquilo que eu poderia ter sido. E o cerrar de meus olhos servirá de exemplo para os outros, pois há vezes em que é preciso que alguns morram para que outros possam valorizar a vida...

Cynthia Funchal
Enviado por Cynthia Funchal em 08/02/2007
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