Bate bola

Lançamento na área é como o primeiro encontro. O jogo é truncado e a equipe pode ser rebaixada são os primeiros olhares, o medo do "NÃO". A torcida grita apreensiva e os jogadores trabalham a bola assim como as primeiras palavras trocadas, o corpo que sua frio e o peito que fica pequeno. Centroavantes e Meio Campistas se revezam no toque de bola. Haja coração, dispara o narrador.

Enfim uma jogada individual, o investimento em algo que não se tem certeza do sucesso. O medo da resposta. O chute sutil e incisivo. O fundo da rede. A sorte. A hora. Novamente, o medo. A arquibancada estremece em delírios. Uma olhadela para o bandeirinha. A busca da confirmação. Finalmente. O gol. O primeiro beijo.

Vejo todos os dias o futebol se transcrevendo a minha realidade. Uma conversa. Uma atitude. Até na expectativa do resultado de algum vestibular, que por exemplo está descrito na cobrança do pênalti. O acesso a lista de aprovados é como acomodar a bola no gramado. A torcida buzina o silêncio no meu íntimo. A cobrança. Meu nome escrito. Os instantes de incerteza. Por fim, a alegria.

Quando conhecemos alguém - da grande amizade ao grande amor - a ficha demora a cair. A dúvida toma conta. A confiança não é imediata. Contudo - algo que julgo estranho - no momento do gol não há fadiga. O amante corre para a arquibancada e comemora. Está feito. Agora é partir para o abraço. E pro beijo.