OUTRA VEZ A SECA.

OUTRA VEZ A SECA.

GUEL BRASIL.

Lá fora o sol é escaldante; aqui, protegido pelas palhas de Ouricuri que cobrem a paiada, ouço a orquestra das cigarras como se esta fosse a última de suas apresentações. E mesmo não tendo chovido já há mais de dois anos, percebo que nas veredas do sertão ainda tem vida, muita vida.

O estalar da vagem do mulungu se abrindo e jogando suas sementes no pó da terra, a trilha deixada pelo rato-coandu em busca de comida e o tilintar dos guizos pendurados no pescoço dos caprinos, procurando folhas verdes de velame para lhes matar a fome; no coxo colocado ao pé do umbuzeiro um pouco d’água, só um pouco, o tanto certo que por hoje vai matar a sede dos poucos animais resistentes à grande seca que ainda temos.

Eu posso dizer que também sou resistente e acima de tudo um

flagelado; não temos mais água, a comida já está faltando em nossas mesas, já perdemos mais da metade de nossa criação, e o restante que tá de pé tá só coro e osso, e nós já não sabemos mais o que fazer; não temo a quem pedir, ninguém nos acode, e às vezes fico pensando que até Deus se esqueceu de nós. Tenho medo de me transformar em retirante e não sei até quando vou aguentar esse fla-gelo;flagelo que nunca se acaba.

Guel Brasil
Enviado por Guel Brasil em 23/06/2012
Código do texto: T3740395
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