E era tão cheia de vida

Jovem, bonita, universitária, alegre, trabalhando e cheia de sonhos. Quantas moças não gostariam de poder descrever-se desta forma? Alguma aceitaria abrir mão da condição? E se fosse para sempre? E se fosse de tudo e para sempre? Inclusive da própria vida?

Não foi a única, mas por causa dessa condição, ela foi notícia há poucos dias; por ter tudo isso e ter deixado a vida, virou manchete nos jornais.

Quem a matou? A busca da alegria artificial, a sensação de imunidade que preenche e veste a juventude, a incredulidade na voz da experiência, o vazio de amor próprio que é alimentado pela superficialidade dos valores do consumo, o sumo sacerdote desta geração.

Falaram em overdose. O que é overdose? Quantos gramas de quê? Quantas “balas” são uma “underdose”? Qual a medida? Quando? Como? Em que circunstâncias? Uma quantidade imensa, pelo entender de cada usuário em sua armadura indestrutível de prepotência enganosa. Um nada pode ser a overdose, diz o bom senso, mas quem forneceu a droga não sabe o significado da expressão.

Em “Colateral”, Vincent, um assassino profissional, vivido por Tom Cruise, diz: “Não sou eu que mato, o que mata é a bala, eu apenas aperto o gatilho”. Será que quem forneceu a droga para ela pensa a mesma coisa ou em algum canto escondido em sua consciência há espaço para o remorso? Ou ela foi apenas mais uma, como tantas de quem ele sequer se lembra e para quem apenas apertou o gatilho?

Chega a ser escabroso o modo como muitos – a maioria? – dos frequentadores de certas festas se referem às drogas, ao ecstasy em particular. Com uma casualidade irresponsável, contam como conseguem, como usam, como isso, como aquilo. O comportamento das meninas que fazem “qualquer coisa por uma bala” não é sequer olhado com reprovação; parece que por uma “bala” vale fazer qualquer coisa mesmo. O vácuo precisa ser preenchido, e isso justifica tudo.

Uma ou algumas “balas”, usadas para aumentar a alegria numa festa, a levaram. O que será necessário para ao menos amenizar a tristeza dos que ficaram, e armazenar uma vida de saudades de quem era tão cheia de vida?