AVE MARIA

A tarde se recolhe no vasto leito crepuscular e as primeiras pinceladas da noite já se fazem sentir na

amplidão do universo.

Um sentimento estranho, um misto de nostalgia e beleza se apoderam de mim quando ouço o repicar do sino, trazido pela brisa da tarde.

Seis horas...

Hora do Ângelus...

O dia termina dando lugar às primeiras horas do anoitecer.

Andorinhas em revoadas realizam coreografias fantásticas no palco da abóboda celeste.

Olho-as e as invejo... alçar vôo, dançar no espaço, sentir-se livre, livre do preconceito e orgulho, que tanto escravizam.

Pessoas passam apressadas, maratona improvisada de final de tarde. Alguém corre atraz do ônibus...

Um velho bêbado cochila num canto, curtindo o seu "porre" costumeiro.

Instantâneos de uma rotina que se repete.

Enquanto isso, eu, integrante desse cenário vivo, fico meditando e analisando cada pessoa, cada gesto, cada ser. Cada vida carrega consigo tantos sonhos, ilusões, sofrimentos, sentimentos inerentes ao ser humano.

Se houvesse mais amor no coração humano certamente a vida e as pessoas seriam mais felizes.

Nesse sublime momento, em que a criatura se comunica intimamente com o Criador, meu olhar se perde no horizonte sem fim e diante da beleza de um poente marejante, abro o meu coração para Deus, e com fervor, rezo baixinho:

Ave Maria que estás no céu...