Viver não é preciso

Já dizia o poeta que navegar é preciso, viver não é preciso. Fato, a vida não admite GPS, é um velho barco à deriva que navega rumo ao desconhecido. Nada é linear. Os projetos se cumprem à revelia de nossos pseudoplanejamentos.

Não, não é a teoria do caos. É a ditadura do tempo, a descoberta do óbvio na teoria do nada, onde moléculas invisíveis convergem para a fantástica descoberta de que a vã tentativa de explicar a existência pode resultar inútil.

Reza a lenda, que os desavisados são mais felizes; e são mesmo, pois constroem mapas astrais a partir dos muros de seus quintais, não complicam, não questionam. Deixam-se levar pelo velho barco sem medo, enquanto os supostos pensantes procuram lógica para a existência.

Inútil buscar tanta lógica, quando percebemos que a sucessão daquilo que vivenciamos, pouco ou quase nada, é o resultado de nossos projetos antecipados.

Não é destino, é a adaptabilidade necessária à sobrevivência. Darwin já sabia disso; ou nos adaptamos, ou estamos condenados à extinção.

A percepção do óbvio é uma das dificuldades humanas, talvez por que tenhamos a pretensão da racionalidade, da suposta inteligência que nos diferencia de outros seres. Inventamos asas, foguetes e bombas para justificar a superioridade no reino animal, mas ainda somos incompetentes para planejar a vida, e assumidamente impotentes diante da morte.