*Destino ao futuro

Destino ao Futuro

Dedico aos topógrafos

e agrimensores do Brasil.

17 de outubro, dia do topógrafo.

A todos os meus irmãos anônimos, que se embrenharam por esses brasis afora, construindo barragens, aeroportos, açudes, portos e cidades, abrindo rodagens e ferrovias, rasgando florestas, furando serras, construindo túneis, erguendo pontes e viadutos, demarcando o progresso e descortinando horizontes novos;

A todos os que - e não foram poucos, para desespero de seus familiares - não somente derramaram suor, lágrimas, sangue e desespero, como deixam por lá, a própria vida.

A todos os que, sob o frio gelado do sul ou sob o calcinante sol nordestino, desafiaram a caatinga, as nuvens de poeiras, as correntezas dos rios, a lama de invernos rigoroso, as agruras do Pantanal e o calor abafado da Amazônia ao sabor dos mais inóspitos confrontos;

Aos que enfrentaram malárias, ganharam hepatites, tiveram os calcanhares bem próximos das presas das serpentes, não obstante as noites de insônia, o desânimo, fadiga e as incompreensões e até as vezes serviram de "bode respiratório” no descaso de terceiros.

A todos vocês que acordam muito antes do sol, que asfixiam seus próprios ideais em benefício de suas famílias, que não viram o desenvolvimento dos próprios filhos, que não tiveram a plenitude do amor das mulheres, por se dizer, viúvos de mulheres vivas, que perderam amigos e que se perderam de tantos outros;

Aos que não perderam a alegria, que contaram "causos", que inventaram histórias, que mesmo intoxicados pela saudade animaram os desesperados, que não abdicaram do otimismo e que, morrendo, ainda acreditaram na vida.

Aos que, sacudidos pela tristeza, cantaram ou tocaram violão; aos seresteiros, aos filósofos e os poetas e a todos os que animaram aos meditabundos, não abdicando da alegria;

Aos que, arqueados por seus fardos ainda me ajudaram a carregar os meus; aos que me deram a mão e me aplacaram a sede; aos que me empurraram ladeira a cima e me brecaram quando eu ia de ladeira a baixo; aos que comigo sofreram ou sorriram;

A vocês, heróis sem divisas, pau pra toda obra, madeira que cupim não rói, sem medalhas no peito, sem honrarias, sem placas de agradecimento, sem condecorações, sem memória;

Aos solícitos e pacíficos que ouviram os desabafos, que acolheram, rezaram, dividiram conhecimentos, multiplicaram otimismos, que somaram forças e diminuíram os dissabores; aos brigões e embrutecidos pelo tempo; e aos que, na hora da cerveja, se mataram de rir de piadas sem graças.

Aos impacientes e afoitos, destemidos ou prudentes, acidentados e mutilados; aos que, caindo sob o peso do próprio corpo e das responsabilidades, ressurgiram sem pisar nos outros; aos oprimidos por um salário de fome, que não venderam a alma ao diabo, que não se deixaram subornar, mas que continuam tangendo e alargando, arrastando e empurrando, aumentando e conduzindo as fronteiras desta pátria nem sempre agradecida e por vezes ingrata, com destino ao futuro, registro o meu apreço, carinho, admiração e reconhecimento.

Na sua frente, desafios; atrás, o progresso.

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Filosofia de botequim:

Não confundas cúmplice com amigo. Quem tem cúmplice é bandido.