DE BOBICES E "POMPICES"

DE BOBICES E “POMPICES”

Outro dia, comentávamos numa roda de amigos algumas bobices e “pompices” das quais ninguém está livre e que acometem principalmente os que se dedicam a aparecer mais do que os outros. Ocorrem também entre os escritores. Alguns subscrevem seus textos com informações apropriadas e outros com anotações impertinentes, como: que são “escritores” (o que deveria ser óbvio, mas, em alguns casos é, realmente, duvidoso); a profissão, uma pequena biografia, os títulos culturais conquistados, é de normal interesse; outros, o lugar onde foi escrita a matéria, sempre em Paris, Nova Iorque ou cidades charmosas outras, porém (em alguns casos), de nenhuma importância para o conteúdo do texto, significando algo apenas para a vaidade do escritor; outros, adoram declarar amores pelos seus deleites esportivos ou de inesperadas diversas naturezas: futebolista, carnavalesco, palmeirense, voleibolista, etc. Os “pompeiros” misturam patos com camélias, pretendendo unir valores diferentes -- inconciliáveis!

Situado no extremo inferior da escala dos amantes da arte literária, sinto-me inferiorizado no que se refere à “pompice”, pois nunca freqüentei tão importantes cidades ou ínvios lugares como Timbocutu. Himalaia ou a Antártida. Minhas idéias surgem em lugares prosaicos ou inoportunos: na fila do banco, em Restinga, no papo com os amigos... Ademais, não acredito que meus pobres textos alcançariam a sublime elevação da escala superior dos literatos, se escritos no Caribe, em Miami ou em Londres.

Quanto à bobice, posso aderir à banda exibicionista da nossa “letreiratura”. E não sou fraco, não! Será difícil, no entanto, escolher a divisa que ilustrará meu “brasão literário” :

“pirueteiro do ar brevetado pela FAB”,

“pescador em mar aberto”,

“analista político da Praça Barão”,

“francanófilo”,

“seresteiro”,

“ex-namorado da...” (deixa pra lá!),

É hora, todavia, de encurtar esta bobice que já descambou para a “pompice”. A “pompice”, é bom esclarecer, é a filha bastarda da pompa, adotada pelos que “se convenceram-se” que inventaram a literatura, diria o Barão de Itararé.

José Eurípedes de Oliveira Ramos

Da Academia Francana de Letras

José Eurípedes de Oliveira Ramos
Enviado por José Eurípedes de Oliveira Ramos em 10/02/2007
Código do texto: T375942
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