Dá para calar?

Em Apucarana (PR), um vereador entrou com projeto de lei na Câmara obrigando os alunos de escolas públicas a rezarem um “Pai Nosso” antes de começarem as aulas. Age com boa intenção, certamente, até porque deve ter sido criado pensando que não existem pessoas não cristãs na face da Terra. Mas, como homem público, teria a obrigação de saber que não há mais religião oficial no Brasil e que nosso país é um Estado laico, isto é, que, como Estado, não professa nem se submete a alguma religião e que as escolas públicas devem seguir a mesma orientação, embora possam oferecer ensino religioso de livre acesso. Os estabelecimentos particulares que normalmente deixam bem claro sua opção religiosa, têm o direito de professá-la e ensiná-la, mas, mesmo, assim, não obrigam seus alunos de outras crenças a participar. Questão de respeito.

“Mas o “Pai Nosso” é de todas as religiões cristãs”. E quem não é cristão? Ou crianças não cristãs não são aceitas na escola? E mesmo para quem professa o cristianismo, qual a versão da oração que pretendem usar? A católica, a evangélica, uma mista, outras variações? Causar constrangimentos será o único resultado. E os professores, em sua maioria, não estão preparados para lidar com isso, até porque refletem o ambiente religioso em que foram criados.

Bom Princípio é uma pacata cidade do Rio Grande do Sul. Várias crianças iriam receber a Primeira Comunhão, mas o padre negou que uma delas a recebesse. O pecado dela: tem a síndrome de Down e, no ensaio, não abriu a boca. Sabe mais que todos, o padre, mais do que Jesus Cristo, inclusive, que sempre escolheu quem tinha dificuldades. Talvez possa ler o Evangelho para se espelhar, e I Coríntios, 13 (“O amor (a caridade) é paciente e benéfico.....se não tiver amor (caridade) nada serei”).

“Se você prefere a seus filhos, sua esposa, seu marido ou a Deus, é isso que ele quer saber...” vocifera o “pregador” na televisão, abertamente preparando os ouvintes a colocarem a mão no bolso e aumentarem substancialmente suas doações, pois daí a dizer que precisa escolher entre dar o dinheiro a Deus e guardá-lo para si, é um pulo. E ninguém consegue fazer nada.