Aventura no Amazonas - 3

Caburi, 27 de outubro de 1996 - domingo

AÇÃO!

Essa história foi verdade. Leia as partes 1 e 2 e confira. Eu sobrevivi. rsrsrs.

No terceiro dia, bem cedo, andamos por trinta minutos até chegarmos à colônia das casas de farinha, onde havia grandes focos de doenças. Imaginem, um lugar onde se produz alimento, produzir doenças!

Havia um poço artesiano, fornos e um pequena lagoa onde a mandioca (ou macaxeira, ou aipim) era mergulhado para tirar a acidez. Nesta época, as casas já estavam desativadas, mas fizemos algumas tomadas lá.

Voltando a Caburi, muitos pássaros, algumas plantações e uma casinha. A manhã acabara. Preparamos nosso almoço e depois, hora da partida. Puxa, até me deu saudades agora, rsrs.

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PAUSA!

Antes de continuar, devo voltar no tempo, nos meus antes dos quinze anos, acho:

Um dia eu estava em casa, assistindo uma sessão da tarde, um filme do Tarzan, no qual um grupo de pessoas andava na selva e teve que passar por dentro de um riozinho, água pela cintura, com bagagens e equipamentos. Aquela cena me deu um treco que não sei dizer o que foi. Só lembro que disse: "eu nunca teria coragem de andar num lugar desses."

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VOLTANDO À EXPEDIÇÃO

Nossa volta começou como uma viagem e terminou como outra aventura. Silvano e Dona Graça, para sorte deles, tiveram que ficar na agrovila. Seguimos na voadeira eu, Aparecida, Stanley e Sebastião, e toda a parafernália de antes.

A paisagem do lago é bonita. Depois de atravessá-lo, chegamos ao igarapé que, por causa da vazante, fica muito estreito.

Encontramos um pequeno barco encalhado, com passageiros. Alguns homens estavam mergulhando para desencalhar o barco. Mais adiante, passou por nós uma canoa supercarregada de mantimentos, com a borda quase no nível da água. Como é que essas canoas conseguem se manter flutuando sem a água entrar? Bela engenharia.

Nas margens: fazendas, gado, garças... tudo muito bonito, ATÉ QUE...

No meio da viagem, próximo a uma casinha de madeira, tivemos que parar, pois o igarapé ficou tão estreito que não poderíamos mais ir na voadeira.

Desembarcamos e tivemos que seguir a pé, cada um levando a sua bagagem, e eu ainda com o tripé e a filmadora. Stanley me ajudou com o tripé. Eu, de um lado com a filmadora no ombro e do outro, segurando minha mochila, ia filmando tudo.

Um garoto de seus 12 ou 13 anos, magrinho, surgiu no meio da história, não sei de onde, acho que da casa onde paramos, e veio nos ajudar. Ele levou as duas bolsas da Aparecida, CADA UMA EM UMA MÃO, sem o mínimo sinal de peso (sabe como é bagagem de mulher, né?).

O garotinho virou o nosso guia "turístico", ia na frente desbravando o que ele já conhecia bem, o caminho mais curto até as margens do Amazonas. Se aquele era o mais curto, não quero saber qual o mais longo.

"Bom, até que não está tão difícil", pensei, enquanto íamos andando em uma trilha.

Pelo mato fomos andando e pelo mato fomos... ATOLANDO! De repente, aquele filme do Tarzan me veio à mente, mas em proporções piores: a trilha acabava, não em água, mas em LAMA! Uma enorme poça de lama que tínhamos que passar.

E o garotinho ia que ia lá na frente, feliz da vida:

- Vamos lá pessoal, é por aqui!

E não era lama que sujava só os pés, não, nossas pernas afundavam até aos joelhos naquele lodaçal. Uma lama grossa que prendia nossos pés lá em baixo, muitas vezes nossos pés se retorciam e ficávamos presos nos tornozelos, quase causando uma entorse. Meu pé quase se desloca. Era ruim demais tirar literalmente o pé da lama, pois ela era muito pesada.

PAra a bagagem não sujar, segurávamos com os braços pra cima, dificultando mais ainda a caminhada. Andávamos com as asas abertas.

E o menino lá na frente, segurando as bagagens, cada uma em uma mão, como os braços levantados. Bracinho forte o do curumim.

Foram cenas de fazer inveja a Indiana Jones.

Eu era o último da fila, mas não perdia uma cena. Aparecida gritou:

- Eduardo, filma tudo isso pra gente mostrar lá em Manaus como é que se faz Internato Rural.

A roupa da Aparecida era branquinha... rsrsrsrsrs.

Stanley, segurando duas sacolas grandes, grunia:

- Se alguém disser que nós não trabalhamos, eu vou dizer "então vão lá seus @#$$%¨&*, e vão ver se fazem melhor!

Depois de uns 20 minutos naquele charco, finalmente saímos para um... mato cerrado! Nos deparamos com uma trilha de uns 40 cm de largura, mato alto e coceirento pelos dois lados... e o medo de cobras e outros bichos.

E o menino lá na frente. Já estou me enfezando com esse curumim.

Mais uns minutos passando por isso e, finalmente, demos numa praia onde havia alguns barcos grandes. Foi como se saíssemos de uma cortina, o mato logo atrás e na nossa frente o RIO AMAZONAS apareceu inesperadamente, largo, amplo, E LIMPO!

Ficamos na praia aguardando um dos barcos que ia para Parintins. Enquanto isso, nos sentamos, pedimos sabão e uma escova bem dura, pra tirar a casca grossa de lama das pernas. Que lama difícil aquela! A gente esfregava, esfregava, e nossas pernas não apareciam. Só um meião branco de jogador.

Embarcarmos, desta vez em um barcão, num riozão, sem preocupação.

E fomos para Parintins. Passamos a noite lá. No dia seguinte, bem cedo, voaríamos até Manaus.

Mas isso fica pra próxima parte. FUI.

Eduardo Escreve
Enviado por Eduardo Escreve em 06/07/2012
Reeditado em 06/07/2012
Código do texto: T3763404
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