Profissão: Professora

 Participando do II Encontro de Jovens do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais e Pescadoras de Alagoas – MMTRP-AL 
 

    Desde que me lembro, fiz do ofício de ensinar minha vida. Ensinei e aprendi nas brincadeiras de escolinha, nas histórias que lia ou inventava para minhas irmãs, irmãos e primos. Ensinei e aprendi na convivência com meus colegas de escola, desde a classe multisseriada da escola rural, até nos cursos de pós que já fiz.
    Ensino e aprendo no cotidiano do espaço de trabalho, por opção, público, interagindo com a diversidade dos demais ofícios, com cada um e cada uma - estudante, professor, coordenador pedagógico, diretor, conselheiro escolar, conselheiro de educação - que compartilhou e compartilha comigo ações de formação sob minha responsabilidade ao longo desses anos de profissão.
                 Aprendo muito mais que ensino, com cada ser que interage comigo nesta dimensão - planta, bicho, gente - com a consciência de que cada um, na sua particularidade e inteireza, contribui para meu processo de humanização, para alimentar minha vida de beleza e afeto.
    Confesso meu orgulho ao identificar minha profissão em qualquer lugar que vou. Profissão: Professora. Fico indignada quando recebo ou ouço falar de textos que nos desqualificam, nos depreciam. Textos produzidos inclusive por professores.
    Tenho consciência de que essa profissão nos dá régua e compasso para a transformação, nossa e de quem conosco caminha, para a busca de sonhos que para muitos é de acumulação de bens, de riqueza, de realização profissional e sucesso e é bom que cada um se realize nessa vida.
     Como educadora tenho orgulho de alimentar esses sonhos. Orgulho também em saber que minha profissão pode não ser a mais prestigiada nem valorizada do ponto de vista financeiro, porém, nenhuma outra se faz sem ela.

  A profissão de Professor/a, apesar de muitos a desrespeitarem, é motivo de alegria para muitos de nós que se emocionam quando somos reconhecidos por quem, ao longo da vida, não esquece quem lhe ensinou as primeiras letras, quem abriu seus olhos para as maravilhas do conhecimento.
    Partilho com vocês um texto derramado de carinho e de reconhecimento à primeira professora do amigo escritor e jornalista Audálio Dantas, ao saber da notícia de homenagem a ela.
    Querido Audálio, hoje, cada professor e professora desse país é Dona Dulce e lhe agradece.
 
   Abraço, Edna Lopes
 
 

 
 
                                     TRIBUTO A DONA DULCE
 
            A notícia da inauguração da creche que receberá o nome de Dulce Gomes, em Tanque d`Arca, me causou dois sentimentos: primeiro, de grande alegria pela justa homenagem que a Prefeitura da cidade presta a essa doce figura que, com amor e competência, abriu os caminhos do conhecimento para dezenas de crianças; segundo, de frustração por não poder participar pessoalmente desse momento muito especial em que a cidade manifesta o seu reconhecimento àquela que foi a minha primeira professora. A notícia me chegou muito tarde, quando já não havia tempo para que eu pudesse acompanhar a homenagem de perto.
     Transporto-me neste momento para a Tanque d`Arca que ainda não era cidade, mas apenas um dos distritos do imenso município de Anadia. Em meados dos anos 1940, duas escolinhas isoladas funcionavam na sede da vila – uma delas, a dos meninos, sob a regência de Dulce Gomes.
     A escola era a sala de visitas de sua casa, no velho Quadro, que hoje, se não me engano, se chama Praça da Liberdade. Naquela sala irrompia, algumas vezes durante as aulas, montando um cavalo de pau, o menino mais velho de Dona Dulce, o Rogério. Doce como seu nome diz, ela não se zangava. Dizia apenas, docemente:
      – Vá pra dentro, meu filho, agora mamãe está ocupada.
     Foi ela que, ali, me ensinou a juntar as primeiras letras e, com muito gosto, a entender o significado das palavras, e logo as histórias que os livros contavam.
     Sob sua sábia orientação, tornei-me uma espécie de ledor oficial da classe, o que me dava imenso orgulho.
     Dona Dulce escolhia um trecho de livro e me delegava a responsabilidade de lê-lo em voz alta durante a aula, para que todos ouvissem.
     Foi assim que aprendi a amar os livros. Eu e toda a meninada da qual faziam parte tantos queridos amigos que trilharam caminhos diferentes, mas levando consigo o tesouro de ensinamentos ministrados por Dona Dulce. Lembro aqui alguns deles: o Hudson, o Wellington, o Renato, o Willy, o Theo. O Theo, Theobaldo Barbosa, rumou pelos caminhos da política, foi deputado federal, vice-governador e governador do Estado; o Willy, pai do atual prefeito Roney Valença, foi um dos primeiros prefeitos depois que Tanque d`Arca virou cidade.
     Mesmo não tendo escolhido o caminho da política – afinal sou jornalista e escritor –, terminei, por circunstância muito especial, sendo eleito deputado federal por São Paulo.
Aí se deu um fato que provavelmente a maioria dos habitantes de Tanque d`Arca ignora: da cidade saíram dois deputados federais e um deles , o Theobaldo, terminou mandando no Estado de Alagoas inteiro...
     Os dois passaram pela escolinha da Dona Dulce, que lhes forneceu régua e compasso. A mesma Dona Dulce que hoje, quando acaba gloriosamente de festejar seus cem anos de vida, recebe essa bela homenagem da cidade de Tanque d`Arca.
      Quero agradecer publicamente ao prefeito Roney Valença, que prontamente acolheu a minha sugestão de que esta casa dedicada à infância recebesse o nome de Dulce Gomes.
       Saúdo de modo especial os “meninos” da Dona Dulce, que como os outros, seus alunos, aprenderam a vida: o Esdras, que se tornou jornalista, como eu; o Pedro, médico ilustre, e o Rogério, artista plástico de fina sensibilidade, reconhecido internacionalmente.
       O dia, hoje, é de Dona Dulce, amada mestra de todos nós.
 
                                               Audálio Dantas
                                               comunicacao@audaliodantas.com.br
 
 
                                               São Paulo, 06 de julho de 2012
       

    
     O querido Audálio Dantas e sua Vanira. Este mês Audálio faz 80 anos e lança TEMPO DE REPORTAGEM  dia 17 em SAMPA