Biblioteca é lugar de castigo

Em uma crônica anterior, falei de minha necessidade de escrever sobre banalidades. Existe banalidade maior do que o descaso para com a educação? Você, caro leitor, deve estar horrorizado ao ler estas palavras vindas de uma professora. Então o descaso para com a educação é uma banalidade, algo sem importância?

Calma... Explico.

A educação vem melhorando sofrivelmente ao longo de várias décadas. Escola pública ainda é sinônimo de fragmentação, fragilidade e descaso. Não há dúvidas disso. Por mais que as pessoas ligadas à educação discordem de minha opinião. Na verdade, a maioria dos que discordam não estão em sala de aula. Estão do outro lado. Do lado que faz vista grossa.

Eu não aceito a imposição de que tudo está bem. Não está! Continuamos trabalhando com a falta de tudo. Principalmente de comprometimento. Sei que vou causar polêmica, mas vou dizer assim mesmo: A educação regrediu no país. Em vários aspectos.

Podemos ter uma merenda melhor. Mas aos alunos falta o pão do interesse. Eles não sentem mais necessidade de aprenderem, de estudarem “para ser alguém na vida”. Essa era uma necessidade nossa, de filhos de colonos pobres e analfabetos. Eles querem curtir. Aproveitar a vida. E os pais delegaram toda a responsabilidade de educar os filhos à escola.

Podemos ter profissionais da educação formados, especializados, cada vez melhores habilitados para suas funções. No entanto, muitas vezes falta a simplicidade do amor à vocação de ser mestre. Ser professor é mais de que profissão. É vocação! Precisa-se desejar a mudança, querer que aconteça. Encontro todos os dias colegas estressados esperando pela aposentadoria e repetindo o mantra: “Não tem mais jeito”.

Temos carteiras, quadro negro e giz. Muitos livros. Infinitas possibilidades e tecnologias que nos garantem preparar aulas maravilhosas. E do outro lado, a falta de comprometimento de quem aprende e de quem ensina. O professor tem sido aquele que fracassou em todas as outras áreas profissionais. Vulgarmente falando: não deu certo na vida? Ainda pode ser um professor...

Nem preciso mencionar o descaso político e governamental para com a educação. Isso já está batido. São tantos projetos, tantas leis, tantas coisas lindas de ser ver... No papel!

Quero que um político qualquer, um secretário da educação, qualquer um que me ache radical venha viver a realidade das escolas brasileiras. Que venha sentir na pele o que um professor vivencia todos os dias em sala de aula. Gostaria que eles pudessem olhar meus alunos com o meu olhar, com a minha necessidade de mudar, de educar. E que sentissem a minha revolta contra o sistema massacrante e alienante.

E que soubessem que um dia, em uma escola que já trabalhei, quando um aluno estava de castigo, ele ia para a biblioteca. Um lugar onde ele não precisa fazer nada, muito menos ler um livro.