Uma aventura instigante

Desde que me propus o desafio de escrever um romance, eu vi que não seria fácil mas, à medida que escrevo, vejo que o romance envolve descobertas e um relacionamento íntimo com os personagens, seus dramas e sentimentos. Os personagens dialogam comigo, dizem-me o que sentem, quais as suas necessidades. É uma relação de amor e respeito. Eu sinto que preciso respeitar seus sentimentos, seus objetivos e suas dores. Quando eles me pedem para que eu lhes dê espaço, eu devo obedecer e dar a vez a eles.

O romance é uma aventura íntima e exclusiva do escritor, que penetra no mundo dos personagens e, ao mesmo tempo, permite que estes se personifiquem e definam sua vida. É incrível a força dos seres que você cria. Eles podem ser totalmente diferentes de você, mas, de certa forma, saíram de sua mente e trazem fragmentos de sua alma. Há um personagem que eu criei que é o que muitos definiriam como um psicopata. Ele mata por prazer e não tem remorsos. Embora eu saiba que nunca faria isso, sei que sua maldade saiu de mim.

Além de nos obrigar a respeitar os personagens, escrever nos leva a perguntar sobre nós mesmos. Eu me pergunto quase sempre: fui eu que dei vida a isso? Será que um pouco de mim não está na essência de personagem tão violento? O que existe na cabeça de um escritor? Talvez todo escritor seja meio louco.Sua mente não lhe pertence inteiramente, é como se fosse controlada pelos personagens que ele, supostamente, cria.

Digo que o escritor supostamente cria os personagens porque, muitas vezes, eu penso que não crio meus personagens mas que eles, de alguma forma, sempre estiveram por lá, espreitando, esperando que eu me dispusesse a permitir que eles, através do papel, pudessem se tornar conhecidos. Ao escrever eu, que sou uma pessoa tímida, ouso porque, quando trago meus personagens a este mundo, eu não quero que o leitor saiba nada a meu respeito. Meus personagens é que interessam. Quero que leiam o que escrevo e tento não me revelar. Que os leitores conheçam os medos, sentimentos e lutas daqueles que pedem que eu lhes revele. O escritor, no final, é a porta de entrada e não é o escritor que interessa, mas aqueles que ele quer mostrar.