NAQUELE FOGÃO A LENHA

Naquele fogão a lenha ela passava seus dias, como se a direção de um leme estivesse. E estava. Pois ali era criada toda a alimentação que possibilitaria sua prole seguir seu caminho do dia a dia.

Naquele fogão a lenha, ela, inculta e pobre, fazia diariamente o milagre da multiplicação da comida. Ela não conhecia o processo de alquimia.

Naquele fogão a lenha ela sentia-se em seu habitat natural. A rudeza da vida fez ela não esperar muito, não desejar mais, não questionar. Seu dia dividia-se entre elaborar uma refeição e outra. A variedade nos cardápios, dentre o pouco que possuía, dava-se com a ajuda Divina.

Naquele fogão a lenha ela aquecia as mãos cansadas e enrugadas. Aquecia também as meias úmidas dos filhos pequenos, as quais a noite chuvosa não secara. As crianças gostavam! A meia quentinha protegia os pezinhos que cortariam a grama gelada, na manhã fria do sul.

Naquele fogão a lenha ela sentia-se a comandante sem uniforme. Suas roupas eram simplíssimas. Ela era muito, muito, desprovida de vaidade. Sem enfeites e adereços, isenta de maquiagem, usava o cabelo curto suspenso por dois grampos. Ela parecia ter sempre a consciência de estar aqui em uma missão e ter vindo pronta para isto. Não necessitava, portanto, acrescentar mais nada ao seu humilde visual. Mas humilde não era a sua postura, essa sim, era dotada da altivez de uma Dama, onde o azul dos olhos lembravam esferas celestes num rosto de mulher.

Naquele fogão a lenha ela passou os anos, ela passou a vida, os filhos vieram, os filhos se foram e ela um dia também se foi... bem ali em frente aquele fogão a lenha...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 12/07/2012
Reeditado em 14/07/2012
Código do texto: T3774759