SOLIDARIEDADE HUMANA

"Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se".

(Gabriel Garcia Marquez)

Nas cidades do interior, quando morre alguém é costume arraigado na população , que o indivíduo fique exposto em um caixão durante pelo menos 24 horas antes da realização do enterro. É provável que a este costume tenha se originado na Idade Média, na Europa, quando os copos e pratos eram feitos de estanho. A mistura de bebida alcoólica com o óxido de estanho causava uma espécie de narcolepsia. Quando um cadáver era encontrado, era deixado sobre uma mesa por alguns dias, para se ter certeza de que estava realmente morto (GOOGLE).

Todavia, sem sombra de dúvida, constitui uma forma peculiar de homenagear o morto e também de solidarizar com os familiares. Infelizmente também, um local onde maus políticos procuram angariar votos e advogados inescrupulosos, um inventário pomposo.

Conheci um homem que gostava de prestar essa homenagem fúnebre, freqüentava, na medida do possível, todos os velórios que podia, obviamente eram visitas breves, levando aos familiares do falecido, solidariedade. Era tímido, gentil, falava baixo e suavemente. Casado, funcionário da Caixa econômica Federal. Todos que não era de sua convivência, imaginavam que ele tivesse alguma deficiência mental. Haja vista, ser um freqüentador assíduo daqueles encontros fúnebres. Entretanto, essa impressão era dissipada, a partir do momento que se travava com ele um diálogo qualquer. Tal comportamento incomum deveria ter uma motivação maior.

As razões que o levaram a adotar esse hábito, eu fiquei sabendo por um colega dele de serviço. Vamos ao relato: Honório, era esse o seu nome, tinha dois filhos e um deles adoeceu e veio a falecer. O sofrimento familiar foi muito grande, sendo suportado graças a religião e a solidariedade das pessoas. Durante o velório, Honório percebeu que muitas pessoas próximas, amigos de longa data, não compareceram naquele momento de tristeza. Enquanto, outros cuja amizade não era tão estreita fizeram questão de apoiá-lo. Inclusive, entre ele muitos desconhecidos.

Depois disso, ele passou a freqüentar todos os velórios que podia, indistintamente. Pois, naquelas horas difíceis, o calor o humano foi crucial para que ele não cometesse nenhum desatino, vindo principalmente de pessoas desconhecidas. Como também, não gostaria que sua ausência fosse sentida por algum amigo, que passasse pelo dissabor de perder algum ente querido. Assim, fazia questão, na medida do possível, de visitar todos, nessa hora difícil. Interessante notar que ao contrário do esperado, ele pagou a indiferença que recebeu, com SOLIDARIEDADE. Muito embora, sendo motivo de comentários maldosos por parte de muitos.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 13/07/2012
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