O PROIBIDO DIÁRIO SEXUAL DOS HOMENS XV – O DIA “G”

Era uma vez um garoto que tinha uma vizinha vinda da roça, e a mesma não abandonou seus costumes do interior e todo dia de manhã cedo, mas todo dia mesmo, dava comida a sua criação de galinhas e conversava alto com elas. Esse mesmo garoto tinha como morador da frente de sua casa, um cara jovem e solteiro que adora música. Música alta. E de vez em quando, as 7h da manhã acordava de muito bom humor e compartilhava sua música com toda a vizinhança... Agora esqueçam o “era uma vez”. Robertinho era este garoto. E na manhã de seu aniversário, 22 de junho, tanto a vizinha das galinhas e o cara do som resolveram começar os trabalhos juntos. Era o “ Pi pi Pi” das galinhas de um lado ( PI PI PI sim, porque o tal de cocóricó não me convence) e Tina Turner gritando do outro ( o cara variava muito de estilo, o que por um lado era bom).

Era um consenso familiar já antigo de poder faltar a aula no dia de seu aniversário... 16 anos... Isso era muito bom... Será?

Um bolo formigueiro com cobertura envolto em glacê o esperava para o café. Neste dia a mãe também assava carne de porco. Eram as únicas exigências dele: bolo e carne de porco. Sonho pobre de aniversário, bem atingível. Festa estava fora de cogitação. Flora já estava melhor, o corte no pé cicatrizado, e as coisas indo muito bem. Parabéns de fulano, parabéns de ciclano, algumas ligações, roupa nova do pai e da mãe, e um filme pornô de seu amigo Augusto. Grande amigo! E claro, Robertinho não via a hora de ficar sozinho em casa, para poder colocar aquela maravilha o videocasssete, e se deliciar. Ele imaginava, quase sabia que ia se acabar, seu saco escrotal talvez secasse e sua mãe ficasse entrevada de tanta bronha que ia tocar... Mas quando ele teria a oportunidade é que ninguém sabia. Então, enquanto isso não rolava, guardou o VHS no meio de sua pilha de camisetas o guarda roupa...

(PARE – releia a última frase – concorde comigo que esse é um lugar óbvio e uma grande cagada está por vir).

Pois é, hora de refletir, meso não querendo. Porque depois dos 10 anos, todo aniversário a gente dá aquele suspiro pesado e se sente um velho com muita experiência por alguns segundos. 16 anos de vida. Nenhuma namorada e poucas, pouquíssimas na lista de pegadas. O que o confortava é o que o pai lhe havia falado aquela vez, e que ainda era jovem.

E sinceramente, ele se preocupava. Tentava ficar com as meninas, mas nada. Qual era o problema? Ele não era a pessoa certa, ou elas eram todas as pessoas erradas? E ele não pensava em namoro. Queria só experiência, prazer, diversão... Isso era pedir demais? Parece que era sim! Poxa uma pegadinha aqui, uma ficadinha ali, beijinho lá e coisa e tal... Mas nada! Começou então a praticar um ato pouco comum a ele: uma garota o olhava, mesmo por poucos segundos e ele já chegava nela. Na verdade seguia a dica de Augusto, de uma questão de probabilidade ou despertar de idéia. De que se ficasse tentando, uma hora ia conseguir. A garota olhava e ele se aproximava e puxava assunto do nada.

Risadas e indiferença foram as únicas reações que conseguiu... Poxa 16 anos e nada cara! Qual é. Por dois dias ele ficou se encarando no espelho, olhando cada canto de sua face para ver se encontrava o problema. Nada além do óbvio de seu rosto e os fiapos de barba que surgiam e que engrossavam a cada tirada . Então ficou nu em frente ao grande espelho. Até admirou seu grande amigo, o pinto. Ali, com veias, cabeça rosa, dormindo como um anjo, no tamanho certo (acreditava ele) e com os pelos marrons escuros em volta. Até esperou algum conselho dele, mas ele não falava. E continuou olhando seu corpo. Nem gordo, nem magro. Nem alto, nem baixo. Nem feio, nem bonito. E mais uma vez nada. Nada além de sua pele, de seu corpo, e dos pelos que nele brotavam. Para seu desespero, alguns nasciam inclusive em seu peito. Bem no meio, na divisa entre um seio e outro se ele os tivesse. E aquilo iria crescer... Não os seios, mas os pelos. Maldita genética. E tudo estava ali normal, e talvez era esse o problema: ser normal!

Pensou em inovar (olha a merda aí minha gente), mas personalidade, originalidade era mais importantes (ufa!).

E o feitiço virou-se contra o feiticeiro. Na hora do recreio (sim recreio, intervalo é para os fracos), conversando com Armandinho perto da sala de educação física, uma garota o olhava e ele passou os olhos por ela sem querer. Bonitinha até, mas nem se ateve a questão, e a voltou a conversar, quando uma voz feminina o chamou (era a garota que cruzara o olhar). Ela era bonita sim, corpo, rosto delicado, na medida certa. Só poderia ser para xingá-lo.

- E aí, e notei você me olhando. – Ela falou ali mesmo na frente de Armandinho, que ficou calado, abismado pelo tom da conversa.

Robertinho teve aranhas em suas costas, que é o mesmo que borboletas na barriga: - sim, eu te olhei rápido, por que?

- Isso significa que você está afim de mim? Eu acho que a gente poderia se conhecer melhor. –Um sorriso de dentes perfeitos nascia naquela boca vermelha linda.

Robertinho assustado, esperava o momento de alguém dizer que aquilo era uma pegadinha: - É uma ótima idéia.

- Então a gente se vê, tchau! – E ela se foi sorrindo, devagar chegando longe.

Como ele nunca tinha notado aquela belezinha do primeiro ano? Talvez tinha, mas de bonita, devia ser tão disputada que ele nem tentou. Alguns segundos depois e ninguém disse que era uma pegadinha. Bem, o negócio era comemorar!

Robertinho pensou na hora em ir atrás dela, continuar conversando.

- Não. Deixa! Ela virá ao seu encontro. – Sábias palavras de Armandinho. E eles beberam uma laranjinha Água da serra pra comemorar a conquista.

Os dias passaram-se, algumas semanas passaram-se, a garota sumiu da escola, sem eles terem se falado novamente. Aí Armandinho, sábias palavras né, seu desgraçado! Mas Robertinho era um cagado mesmo. As férias de julho chegaram, e lá ele ia ter que esperar pra ver se a guria aparecia novamente, pra quem sabe, ainda estar afim.

Um dia lanchando com Armandinho e Gustavo, num lugar bem pertinho de sua casa. Comeu um bolinho de carne com mostarda, bebeu guaraná Pureza (delícia demais elaiáaaa), e foi ao banheiro. No mictório um cara fazia xixi e tinha o pinto enorme, mesmo sem estar ereto. O cara não notou, mas Robertinho ficou olhando pra aquilo, abismado. Foi então que em seu cérebro caiu a ficha: eu sou gay!

Ele vivia em uma época que os gays eram tudo de ruim no mundo. Amados, ou odiados. Era quem levava as doenças de lá pra cá e de cá pra lá, eram quem discerniam as drogas no mundo e mais uma série de coisas negativas perante a sociedade.

Mas ele não tinha como escapar, ele era mesmo gay. Voltou a mesa renovado: - Rapazes, eu descobri que sou gay! – Pegou sua jaqueta e foi embora, ignorando os chamados dos amigos.

Na dúvida, ele deveria tirar a prova real. Era sexta feira, seus pais haviam viajado. Apenas ele e o irmão em casa. Flora tinha ido para a casa dos pais. Na segunda feira já começavam as aulas de novo. Ele precisava de Flora para ajudá-lo na dúvida (ué, não era certeza?). Ele faria aquilo com as próprias mãos!

Foi até a locadora e alugou filmes de moda e outros com temática homossexual. Laranja mecânica e Priscila, rainha do deserto estavam em destaque na sua lista. Viu todos aquela noite mesmo, até sábado pela manhã. Parava as cenas e tentava fazer trejeitos e gestos dos personagens gays. Não obtinha muito sucesso. O irmão não iria chegar tão cedo e isso era bom. Descansou, quando acordou, pegou suas roupas e tentou fazer uma produção super gay. Mas nada dava certo, que ódio, o destino não estava mesmo colaborando com seu objetivo mona. Pegou algum dinheiro que os pais haviam deixado e foi ao mercado comprar comidas e coisinhas gays. Odiava granola, bolachas de gergelim, papel higiênico folha dupla perfumado, Bom ar magia da noite, macarrão integral, tomate seco, rúcula, Yaksoba, barra de cereais, gelatina light, chá de roseira do polo norte, iogurte natural com fibras... NADA!Nada fazia sua cabeça. Nada lhe apetecia.

Na volta passou em uma loja de roupas, mais fina, ais elegante, pra pobre não entrar. Daquelas que as vendedoras parecem estar passando mal sempre, pois estão toda vida com cara de nojo, pobre coitadas. Não aproveitam em nada a vida tendo aquele comportamento sabe, e qualquer pedaço de pano custa bem caro.

Não ia levar nada, mas provou looks e mais looks (olha que fina:look). Tudo ficava horrível demais. Parecia uma aberração. Calças jeans coloridas e bem apertadas. Coletes de paetês. Camisetas “ mamãe não terá netos”, lenços no pescoço, tênis All Star (Tá, All Star é brincadeira, todo mundo usa), e nada ficou legal, parecia um extraterrestre tentando se adaptar.

Em casa, sem levar nada da loja (nem poderia mesmo), começou a fazer um mantra, e o repetiu horas seguidas: eu sou gay, eu sou gay, eu sou gay, eu sou gay, eu sou gay!

A tardinha teve outra idéia: as roupas normais de homens não ficavam bem, mas as de mulher talvez.

Atacou o guarda roupa de sua mãe. Nada servia direito, ela era menor que ele. Apenas um vestido ficou bem. Um vestido decotado. Ele colocou um sutiã com uma laranja em cada seio, um lenço no pescoço. Ele calçava 38, a mãe 35, não ia rolar um salto.

Maquiagem: nunca havia feito aquilo na vida. Mas passou pó (quase morreu tossindo), blush (boneca Emília), sombra (até na testa), batom (vermelho bem quenga) e tentou passar rímel, mas notou que ficaria cego antes de completar o trabalho e desistiu. Estava linda... Estava não, falei só pra dar uma força. Mas eu pegava... Pegava e tocava fogo pra livrar-nos do mal amém. Que coisa demoníaca era aquela. Enviado das trevas total. Volta pro submundo baranga. Tira esse limão da boca e chupa outra coisa. Asquerosa de verdade. Olhou nas revistas Contigo, e não estava nada parecida com as celebridades, muito menos com uma mulher.

Desapontado, tirou tudo e guardou, com todo cuidado pra não deixar pistas e lavou a cara (coringa do Batman).

A saída, ou melhor: a entrada era ficar entre outros gays!

Arrumou uma pequena mala, deixou um bilhete ao irmão e foi para a casa de Flora com o ônibus do começo da noite. Iria na balada gay, e se comportaria como um. Não falou nada a prima onde realmente iria (e ela não iria lá). Mentiu sobre um encontro com uma garota. Voltaria tarde, pegou a chave dela.

Se arrumou normal, lá dentro que iria se soltar. Estava preparado para viver aquela vida de pecado e ir contra tudo e todos em nome de sua homossexualidade. Parece que estava descobrindo a sua felicidade, finalmente.

A cidade era pequena e tranquila, mais que a dele (sim, baita contrariedade, cidade pequena com boate gay). Foi a pé. na frente do clube, aquele mesmo cenário que ele vira meses atrás. Deu um passo pra voltar, mas respirou fundo e abriu bem os olhos, tinha que encarar sua nova realidade. Fazia caras e bocas, chamava a atenção de algumas pessoas que comentavam baixinho. Outros que pareciam ter sua idade estavam ali na fila do ingresso também... Será que era a primeira vê deles também?

Ao entrar o mesmo processo. E entrou juto com ele um dos que ele achou que eram novos, e puxou papo: - E aí, você é daqui mesmo?

- Não, mas venho quase toda semana. E você?

- É, eu sou sim. Moro com um grupo de amigas.- Robertinho estava indo bem.

- Que máximo! E você curte só meninos?

(O papo estava fluindo, e que máximo era bem estranho, Robertinho viu que tinha muito a aprender).

- Sim, mulher só pra amiga. E você é passiva ou ativa?

(Mandou benzasso! Este era um dos poucos termos que lembrava de ter ouvido sobre este mundo).

- Ativa, adoro levar uma socada. – E a bicha fez uma careta revirado os olhos.

- E não dói muito dar a bunda? – Sim, ele cogitava a possibilidade.

- Só a primeira vez, mesmo assim, fica tão bom, é um vício.

E Robertinho imaginou um pinto duro entrando em seu rabo, isso deveria causar a morte, isso sim.

- Beleza, vou dar uma volta, a gente se vê.

Saiu, foi ao bar e comprou uma dose de vodka e um Sprite. Bebeu tudo encostado em uma coluna. Ficou alegre junto com nervoso e começou a dançar. Não sabia o que fazer, copiava as outras pessoas, e seus movimentos totalmente sem coordenação eram assustadores. Fazia biquinho e fechava os olhos. Gritos o incentivavam na performance, junto com risadas é claro. E então começou a tocar La isla bonita de Madonna. Momento catarse, e Robertinho se esforçou ao máximo, cansou e chegou a suar. Sua dana biba estava pronta.

Um xixi com muito cuidado, e era incrível como desta vez (sozinho e aparentemente um mais seguro) ninguém o abordou e nem passou a mão na sua bunda. Depois do banheiro sentou no sofázinho aquele. Ahhhhhhh, nada estava assim tão ruim: ló um cara sentou, Robertinho engoliu em seco e não saiu de seu lugar. O cara perguntou: Você é uma gracinha, vamos pro quarto reservado comigo?

Uau, agora sim, a prova real da coisa. Quarto reservado só podia ser sexo! Claro que ele queria. Pecisava deixar sua virgindade em algum lugar, preparado ou não, seria ali mesmo. Comprou mais duas doses de vodka e tomou de um gole só. Ficou bêbado, o que facilitaria as coisas. O quarto reservado, na verdade várias, eram depois de uma portinha ao lado do sofá mesmo, que ele nuca havia notado, também nem tinha dado tempo. Entraram em um deles. Era tudo simples, uma espécie de corredor de hotel vagabundo. Entraram no numero 2 que estava vago e o cara disse: Número 2, porque somos 2, e vou te fazer sentir prazer em dobro! – Podíamos ficar sem essa, aff.

Dentro do quarto, uma cama de casal com várias almofadas e uma coberta. A cama era bem macia. Prateleiras e duas cadeiras. Robertinho o olhou esperando que ele lhe disesse o que fazer. Ele disse: - Baixa as calças e se ajoelhe na cama delícia.

Gente vocês sabem o que é isso? Robertinho estava prestes a fazer sexo com um cara, outro homem. E todas as apostas que fizemos nele, todos os papos e vontades, como assim?

Ele fez o que o cara pediu sem conseguir pensar direito pela bebida. Uau, estava frio, bem frio e sua bunda arrepiada. Ele pensou em colocar as calças de volta e começarem algo embaixo da coberta. Abaixou as calças até o joelho e ficou de joelhos (odeio repetir palavras) na beirada da cama, tremendo. E antes que pudesse fazer qualquer coisa, sentiu uma boca grande e muito babada mordendo de leve sua bunda!

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, que nojo!

- Viado filho da puta, sai daqui! – Robertinho xingou parecendo acordar de um transe. Mesmo tonto e leve, empurrou o cara e colocou as calças. Saiu correndo o mais rápido que pode, esbarrando em todo mundo e saiu da boate. Só parou de correr em frente a casa da prima.

Sua bunda ainda estava babada, ele sentia. Que horror, ele pensava, como eu pude tentar uma coisa destas. Só conseguiu desfazer o nojo da cara quando a prima acordou e lhe perguntou como tinha sido o encontro.

- Foi bem legal. – E só isso! Foram as únicas palavras. Demorou a dormir com medo que alguém o tivesse visto daquele jeito, ou que o cara viesse atrás dele. Mas não, isso nunca aconteceu.

No domingo pela tarde foi embora, já junto com a prima que insistia em detalhes do encontro, o nome dela, que rua morava. Ele só disse que não queria falar sobre isso, e ela respeitou, sem desconfiar de nada.

É, ele não era gay! O que lhe fazia mergulhar e nadar na piscina do alivio. Ele gostava sim de meninas, porque ainda não conseguia parar de pensar naquele que sumiu. Que baita deslize, o que faz o desespero em um homem! Nossa senhora das monas perdidas, iluminai. Nada do que ele tentara deu certo. Não era gay, e estava muito contente simplesmente por isso.

O primeiro dia de aula foi chato. Mesmo naquela idade, tiveram de fazer uma redação em uma das aulas, falando sobre como foram as férias de inverno. Robertinho decidiu deixar o tempo agir, deixar ele colocar alguém em seu caminho, outra vez.

Na saída, foi o banheiro, apurado, com medo de não chegar em casa seco. Tinha nojo do mictório da escola e foi até um Box, o deixou aberto com a mochila nas costas, mas enquanto terminava, o Box fechou e alguém também entrara lá (sim, o Box era grande). assustado, pingando a última gota no vaso, levantou as calças e virou-se atrapalhado. Deus era sua morte chegando num banheiro sujo, ou então um assalto, que tempos terríveis.

NÃO! Era a garota sumida que queria o conhecer melhor.

Robertinho sorriu, seu coração queria pular lá fora no azulejo catinguento: - Você! – Mas o que tá fazendo aqui?

- Cansei de esperar Robertinho. – Ela trancou a porta do Box.

Ele apertou os olhos, não acreditando: - Porque trancou?

Aquela boca linda exalou: - Porque vamos fazer sexo!