Palavras de outono

Eu estava muito triste naquela tarde de outono. Na verdade, tudo parecia muito melancólico para mim. Minha vida passava por tortuosas mudanças e o vento, como que adivinhando meu estado, soprava morno em minha face acariciando-me o semblante apertado.

O coração não tinha forças para expressar seus segredos e por mais que eu os quisesse descobrir, não conseguiria. O que eu realmente sabia era que as mudanças em minha vida fariam de mim uma pessoa diferente e talvez deixassem marcas que nem o tempo, por mais sábio que fosse, seria capaz de apagar. E neste pensamento longe, eu caminhava sobre as folhas secas e sob as sombras que a natureza gentilmente desenhava em meu caminho. A tarde parecia compartilhar os mesmos sentimentos que meu coração... Cansada, sentei-me em uma pedra, recostei a cabeça em uma árvore e ali comecei a chorar a angústia que eu desconhecia.

As lágrimas rolavam serenamente e senti que aquele era o carinho mais profundo e sincero que eu já havia recebido... Percebi que o coração podia se expressar através das lágrimas, e ali fiquei algum tempo ouvindo um silencioso diálogo entre meu coração e minha alma.

Em algum momento senti que levemente uma mão pousava em meu ombro. Olhei devagar e deparei-me com uma mão pálida, vivida, cheia de experiência e sabedoria. Meus olhos correram em busca de um sorriso e encontrei um olhar amigo inexplicável. Era um respeitável senhor que há muito me observava e percebera minha tristeza. Na ânsia de ajudar, ele sentou-se ao meu lado e olhou vagarosamente ao nosso redor, como se procurasse algo e soubesse exatamente onde encontrar. Eu o observava neste momento e admirava sua calma. Ele tinha tanta coisa a dizer, eu sabia que tinha. Porém, ele, nutrido da sabedoria que pertence (somente) aos mais experientes, permanecia tranqüilo ao meu lado. Ao correr os olhos a nossa volta, parou o olhar em mim. Naquele momento ele segurou familiarmente a minha mão e apontou para uma árvore frondosa com as folhas em tons que variavam do “palha” ao “laranja”... por causa da estação do outono, e mostrou outras tantas já quase sem folhas pelo mesmo motivo. Olhou para mim mais uma vez e, cautelosamente disse com sábias palavras:

“ – Você está vendo estas árvores? Hoje, elas estão quase sem folhas, seus galhos estão secos e nos parece que morrerão a qualquer momento. Mas olhe além delas: são belas! Inexplicavelmente possuem uma beleza encantadora e comovente... é Outono. No outono as folhas caem, os galhos ficam solitários, o caule (que é o sustento) fica fraco e sem vida. Depois vem o inverno e então tudo parece estar perdido.”

Pronunciando estas palavras, ele olhou firme em meus olhos já marejados e, por alguns instantes eu jurei que ele houvesse interrogado meu coração. Ele continuou:

“ – Mas chega a Primavera. As flores sorriem, os pássaros cantam, o mundo floresce... é um ciclo. A esta altura a árvore já está “madura” e preparada para o verão e para um outro outono...”

Proferindo estas palavras, soltou minhas mãos com carinho, limpou uma lágrima que descia de meus olhos, repetiu serenamente “a vida é um ciclo. Tudo passa... um ciclo...” e desapareceu por entre as árvores.

Renata Lopes
Enviado por Renata Lopes em 11/02/2007
Código do texto: T377964