O espiritismo, segundo...

Dezoito garrafas de cerveja vazias amontoavam-se no pé da parede do barzinho. A décima nona, pela metade, e um prato de panelada como tira-gosto eram consumidos lentamente pelos amigos que, à mesa, já tinham discutido e resolvido problemas municipais, estaduais, nacionais e internacionais (É..., em mesa de boteco sempre se encontram soluções para tudo). Eles, agora, estavam atacando problemas transcendentais:

- Não. A vida não acaba aqui não... Nossa experiência terrestre é só um período de provação. Você abandona a matéria, mas seu espírito, dependendo dos atos que você praticou, volta indefinidas vezes até conseguir o descanso eterno. É-lhe concedido o livre arbítrio: cada um tem o seu carma...

- Acho que se Deus existe, ele é muito injusto. Pô, por que existem aleijados, malucos, excepcionais e mendigos numa ponta e pessoas riquíssimas, sem problemas, levando a vida em eterno prazer, na outra? Que porra de justiça é essa?

- Tá bom..., vou fazer que acredito nesse negócio de provação... Me diga, então, onde é que fica essa fábrica de espíritos? A população terrestre aumenta a todo segundo... Tem espírito que já começa pagando? Parece até o Brasil, onde a criancinha já nasce comprometida com altas parcelas das dívidas nacional e internacional...?

- Esse assunto é muito complexo e merece estudos mais aprofundados... Não posso mostrar argumentos numa mesa de bar... Se vocês se dispusessem a ler alguns livros kardecistas, poderiam, daí, ter um ponto de partida... Existem romances muito bons, Nosso Lar, por exemplo... Se alguém quiser, eu posso emprestá-lo.

- Escuta aqui! Li uma vez, acho que na Super-interessante, que Juscelino Kubistcheck tinha sido Nero numa encarnação passada e que voltou no século XX com a obrigação de reparar o incêndio e a conseqüente destruição de Roma construindo Brasília...

- Pois é. Eu já ouvi que Madre Teresa de Calcutá tinha sido Lucrécia Bórgia e que este fato seria a explicação para tanta bondade nesta sua recente passagem pela terra...

- Pô, cara, é engraçado..., quando se fala em vidas passadas, as pessoas sempre encarnaram gente famosa: Nero, Lucrécia Bórgia, Gandhi, César, Cleópatra, Cabral, Colombo, Juscelino, Hitler... Nunca ouvi ninguém dizer que fulano ou sicrano foi mendigo, enfermeiro, sapateiro, padeiro, puta...

- Olha gente..., voltando ao negócio de carma... Se isso for do jeito que vocês estão falando, eu acho que na encarnação passada eu era um anjo... – E, depois de alguns segundos de suspense, Nilton, continuou – Porque nesta eu vim pra ser escroto.... Mas, muito escroto!

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 12/02/2007
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