A história dos mãos leves

Logo cedo, quando o dia ia amanhecendo e o trem humano de brasileiros seguia no centro da Pedro Alvares Cabral. Nas paradas dos ônibus outros trabalhadores ficavam a esperar o lotação.Quando o ônibus, enfim despontava na cabeça da ponte, isso uma hora depois, era aquele corre, corre. Mal o Djalma Dutra ou o Sacramenta Nazaré paravam, era aquele empurra, empurra. Pois quem perdesse aquela condução só uma hora depois. Isto é, se no decorrer da viagem o ônibus não desse prego.

Dos cantos, a espreita, paulatinamente uma turma de mulheres e homens aproveitava o empurra empurra para se beneficiar e como comuns entravam no ônibus, que estava naquela altura totalmente lotado.

Gente em pé, apertado; gente pendurada na porta... Gente amontoada.

Em toda essa Odisséia para conseguir tomar o ônibus, outras confusões eram normais. A má conservação dos assentos, a falta de limpeza, o cobrador com a sua camisa aberta, mal apresentado, mal educado e quando não tinha o troco era quem mais sofria; O motorista, quando queimava uma parada...A mãe dele sempre era lembrada.Mas nada se comparava a arte dos oportunistas...

Assentado em uma cadeira a senhora remexia a sua bolsa.Pegou o espelho, retocou o batom, ajeitou as madeixas e olhou se as outras coisas pertinentes a sua necessidade estavam ali.

Ao descer, aquela mulher loira, bem vistosa, com roupas e perfumens finos tomou de sobreassalto uma leve confusão logo na saída do ônibus. Um rapaz, com caderno nas mãos, que também iria descer teve o arame do seu caderno preso ao cabelo de uma moça que estava assentada. E nesta confusão, a moça se distraiu e foi forçada a esperar a resolução do conflito.

Um segundo lá fora, alguns quarterões da parada, quando chegou na casa de sua amiga.Eis a supresa.A sua bolsa estava cortada e a indignação exaltava a dor da perda. Alguém roubou a sua porta cédulas.

Não obstante esse episódio, o pobre trabalhador, que estava com a carteira no bolso esquerdo da calça, quando desceu do lotação na próxima parada. Chapéu da viagem, tinham tirado-a sem ele sentir.

Ao chegar no comércio, bem no centro do ver o peso, começavam as lamentações. Mais ou menos, dez pessoas reclamando de falta de sua carteira.

Uns riam, outros ficavam preocupados e outros olhavam acusados e acusando.Poderia ser qualquer um. Um velho, uma moça, criança ou de meia idade. Na verdade naquela viagem o rosto não tinha idade. Ninguem sabia quem seria a próxima vítima ou se pelo menos, pegariam quem usava de tal prática.

No final da viagem até o cobrador não sabia explicar como levaram a sua bolsa com os seus documentos e o dinheiro do pagamento do plano de saúde de sua mãe.

O tempo foi passando, as coisas foram mudando, as pessoas começaram a ficar mais cuidadosas, as técnologias foram avançando e sendo aplicadas dentro dos ônibus. Com isso, os tempos das mãos leves foram ficando escassos até cair em desuso. Mas há quem tenha saudade desses mágicos dos coletivos, que em muitas vezes deixavam as pessoas sem lenço e nem documentos.