MENINO INVISÍVEL - A CRÔNICA (Phellipe Marques)

Por que não consigo esquecer aquela cena?

Ele estava lá, sentado, escondido, encardido e perdido.

Meus olhos encheram-se de lágrimas ao ver aquele menino, fumando desconfiado em meio à confusão da feira livre mais famosa do Brasil.

Procuro respostas e as encontro em mim mesmo. A desumanidade que vem do homem vem do seu espelho interior, coração cansado de tanta injustiça e materialismo exacerbado e propagado à léguas de distância pela mídia.

O menino escrito em poema provavelmente continua anônimo ou até mesmo morto. De qualquer forma já está, pois vive uma vida sem vida até que o ser humano volte a ser humano e com sabedoria faça do amor o remédio ideal para curar a si mesmo.

Visível para mim, ele estava lá, fumando aquele cigarro como se fosse seu último ato em vida e ainda hoje serve de inspiração para polir meu espelho.

Descrever a vida e sua dignidade é, em muitos casos, interpretado erroneamente por alguns por se tratar da defesa do homem e do que existe em seu coração.

Todos choramos ao vislumbrar o drama contado nos filmes das nossas vidas, mas muitas vezes o drama está perto, numa famosa feira livre por exemplo.

Culpo-me por me sentir impotente perante tão grande injustiça.

Posso transformar a vida do menino invisível num CINEMA PARADISO, num cenário de paixão pela sétima arte e pela poética do viver com dignidade.

Posso tanto e mesmo assim, nada.

Encontro na escrita a forma de expressar a vida daquela criança.

Muitos diriam que sou um sonhador ou talvez um demagogo, mas somente quem já sofreu com a miséria consegue compreender plenamente o sofrimento do outro.

Posso até mesmo ser invisível como ele, talvez um ser carente de habilidade para expressar seus sentimentos, mas não meu dou por vencido até que a voz da justiça ecoe nos corações dos homens.

Enquanto isso, sigo polindo meu espelho, para que este possa refletir o que há de mais sublime em minha vida. Sigo polindo meu espelho para que possa ter sensibilidade para perceber os sinais, as entrelinhas de um mundo que teima em caminhar pela estrada da escuridão.

Que os homens elevem sua condição de vida! Eis o clamor de minha existência!

Enquanto ouço canções de elevação outros estão morrendo, sofrendo a imposição de uma cultura consumista e de guerra.

Nunca saberei o nome daquele menino.

Sem perspectiva, sem identidade, sem futuro e sem vida. Assim é a existência daquela criança.

Seu nome é Phellipe, pois ele sou eu, um espelho da sociedade.






Arte por Thiago Losant, amigo e artista plástico.








Phellipe Marques
Enviado por Phellipe Marques em 25/07/2012
Reeditado em 08/07/2013
Código do texto: T3796025
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