João Helio

Sabem o que me deixa indignada? Saber que o menino que tão cruelmente foi assassinado, daqui há no máximo, uma semana, estará relegado ao esquecimento da mídia e da maioria daqueles que hoje se movimentam em torno de campanhas, das tantas, que não darão em nada.

O que me deixa indignada, é que a população acorda, não em função da tragédia, mas da balbúrdia que a mídia faz em torno delas. Quantas tragédias urbanas acontecem e passam em brancas nuvens, porque não chegam ao conhecimento da imprensa?

De que adiantará mudar a lei de responsabilidade, se não ensinamos aos filhos o senso de responsabilidade? Quantos pais sabem e querem saber o que seus filhos fazem quando saem, com quem saem?

Durante muito tempo, delegamos às escolas a educação de nossos filhos. De algum tempo para cá, elas deixaram de assumir essas responsabilidades, pois perceberam que muitos pais deixaram de exercer a sua, por acreditarem que, arcando com o custo de boas escolas, cabia a elas darem a base moral necessária para a formação de bons cidadãos. E, nenhum professor, que por sua vez também tem seus próprios filhos e reconhece o poder que tem em suas mãos, deseja ter sob sua responsabilidade, jovens que vêm para a escola sem valores morais, sem noção de família e respeito pelos outros.

Nós sempre nos abalamos com tragédias iguais a da família da vítima. Somos incapazes de imaginar a tragédia das famílias dos criminosos, que talvez sejam tão honestos e desejosos de paz, quanto aqueles.

O que me deixa indignada, é que sempre desejamos retificar os erros, pela ponta final, nunca pela base. Retificar as causas, não as conseqüências.

Alguém falou que espera que a morte do menino não tenha sido em vão. É até cruel desejar que ele tenha morrido para que alguma coisa mude. Por que não nos movimentamos sempre? Por que não usamos essa força, essa motivação, antes das tragédias acontecerem?

Deixemos de nos indignar depois. Reflitamos agora, urgentemente, em que podemos contribuir para mudar esse estado de coisas. E, principalmente, deixemos de ser massa de manobra da mídia. Quem ganha com isso, são eles, os poderosos que vendem jornal, o espaço de comerciais na TV fica mais valorizado e uns e outros que escrevem a respeito, se tornam mais conhecidos, distribuindo fartamente, suas crônicas pela Internet.

É fácil pregar moral e direitos humanos, sentado por trás de uma mesa, ou computador.

13/02/2007