Arthurzinho: corações e mentes

Hoje, as informações que recebemos são tantas que nos é impossível absorvê-las em sua totalidade. Muitas vezes nos surpreendemos com as frases e colocações de nossas crianças: seus vocabulários são bem mais ricos do que os de muita gente à nossa volta. O causo a seguir, é exemplo do repertório e criatividade da garotada do século XXI.

Oito anos. O garoto tinha oito anos e era o capeta em forma de gente. Os pais, naturalmente, transferiam a culpa dos seus mal-feitos para Arthurzinho – seu amiguinho mais constante.

E, mais uma vez, ao buscar Sebastião na escola, sua mãe foi convidada a comparecer à diretoria. Ela subiu as escadas com vergonha: “Ai, meu Deus! Sabazinho, aprontou mais uma...”

A professora relatou a nova presepada da dupla: Sebastião e Arthur tinham colocado rabo de papel em Rodrigo e tocado fogo.

Ao entrar no carro, a mãe encontrou o filhote com o olhar perdido: aquele olhar de culpa, remorso e angústia misturados com vontade de desaparecer para sempre.

Ela, organizando as palavras para a preleção, dirigia muda enquanto ele, abraçado à lancheira, olhava a paisagem que o carro deixava pra trás.

Em casa, o menino sentou-se à mesa quando Adalgiza abriu o rosário:

- Meu filho, assim não é possível... Todo dia a diretora reclama do seu comportamento... Eu já falei que o Artrhurzinho não é boa companhia... Eu já lhe disse que uma ovelha ruim bota o rebanho a perder... Por favor, evite andar com este menino...

“Uma ovelha ruim bota o rebanho a perder...: o quê que ela quis dizer com isso?” – Pensou Sebastião enquanto Adaldiza prosseguia no seu bla-bla-blá. Assim que surgiu uma pausa, o menino olhou nos fundos dos olhos da mãe e contemporizou:

- Mãe, eu tento me consertar..., mas o Arthurzinho é muito mais forte do que eu: ele me invade – e, passando a mão na cabeça -, toma conta desta parte do meu cérebro... e, aí, eu começo a fazer bobagens...

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 13/02/2007
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