MINHA ALMA CHOROU

Acabei de ver a reportagem e me percebi trêmula. Me recusava a acreditar que aquilo pudesse ser verdade. A que ponto havia chegado a crueldade humana; como é tênue a linha que divide o ser humano em homem e monstro. E por instantes fiquei apavorada, quase em pânico, por vislumbrar a minha frente um caminho sem volta, pois se a civilização demorou tanto tempo para chegar até aqui, como recomeçar? Como voltar no tempo, fazer tudo de novo e o mais importante, fazer direito?

Quando penso que chegamos ao limite, surge um novo fato para surpreender e indignar a mim e a toda a sociedade. Ouvi esta semana o deputado federal Fernando Gabeira dizer que já não separamos mais os momentos de forte emoção dos momentos mais frios e calmos. “Estamos sob forte emoção constantemente. Pelo menos uma vez por semana estamos sendo pegos por notícias como esta.”

A notícia em questão é a da morte do menino João Hélio, de seis anos, que foi arrastado por bandidos, por quilômetros, do lado de fora do carro, preso pelo cinto de segurança. Eu pergunto: porque um indivíduo precisa usar de tamanha crueldade? O que uma pessoa espera ao cometer ato tão insano? Essas questões me vieram à mente no instante em que vi a primeira reportagem sobre o crime, ao mesmo tempo em que imaginava meu próprio filho naquela situação (mães sentem isso). Então eu chorei. Minha alma chorou. Chorei de tristeza, de revolta, de indignação, de raiva, de medo, de desesperança, e por muitas outras coisas que se misturam dentro da gente nessa hora.

E só hoje, dias depois, consigo expressar o que sinto, ou mais ou menos o que sinto, porque até isso está difícil. Acompanho pela imprensa o desdobramento do caso e mais uma vez vejo, desanimada, que vai ficar por isso mesmo. Quem é que tem poder de acabar com essa desordem? O que o Estado pode fazer de emergencial para que isso não aconteça mais? Só ouvimos dizer: “Isso tem que acabar”, “Alguém tem que fazer alguma coisa”, “Não podemos ficar de braços cruzados”, “Cadê as autoridades, que não tomam nenhuma providência?”, “Será que vai ser apenas mais um?”. Mas, o que se pode fazer, de verdade?

Não vi ninguém apresentar uma solução viável para agora. Discutem mudanças na legislação, diminuição da idade penal, investimentos na educação, no social e no ‘escambáu’. Ações de longo prazo, que dependem de muita vontade política. Outro deputado federal, que não me lembro o nome, disse esta semana: “Quando começar a morrer filho de deputado, de senador e de ministro, quem sabe haverá alguma mobilização das autoridades. Por enquanto, fica por isso mesmo.” Muitas falas, é verdade, mas ninguém se habilita a propor mudanças para ontem. E vamos ficar aqui, assistindo, correndo o risco iminente de amanhã sermos nós as próximas vítimas, ou nossos filhos, pais, irmãos. Fazer o quê?

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 13/02/2007
Código do texto: T380219
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