OS SOBRINHOS E FILHOS DO CAPITÃO

Família, família

Modelo de arranjo social complexo, onde se exercita largamente o choro e o riso com a mesma intensidade e facilidade.

Nelson Rodrigues que o diga, mas a nossa,regada no dendê, com a alquimia perfeita da tapioca com ovo, bem que daria para povoar um dos livros do amado Jorge, e seus casos fariam Wood Allem descompensar. O que se há de fazer? a vida é mesmo bela, como ela é.

No nosso caso em particular, quando falamos em família os limites entre parentes e amigos é meio indefinido, sempre estivemos incorporando novas aquisições, e a definição Cintra Santos, na verdade é um conceito ampliado de um bocado de outros sobrenomes. Talvez esteja aí a origem da mania baiana de a todos chamar de meu tio e minha tia.

Tudo vira festa, tudo vira farra, não tem script, muito menos papel principal ou coadjuvante, todos sempre deram o máximo de si, vocação inata para a felicidade.

Sempre estivemos em contato, mas desde o casamento de Lúcia e Davi com a pompa do cruzamento de espada, seguido pelo de Beth na mesma semana, aproveitando a reunião da família, com trocentas pessoas na casa do Cordeiro, estivemos nos especializando em festas de casamentos. Cada um único, mas a apoteose foi certamente o de Paulo José e Dôra. Que muito bem poderia ter sido dirigido por Guel Arraes, ou Jorge Fernando para o horário das sete na globo.

Para definirmos este casal diríamos que são dos mais elegantes, capazes de arrematar um prato com farinha e pimenta em qualquer dos restaurantes da avenida Contorno, ou sentar numa barraca de feira para tomar mingau de cachorro, na maior elegância. Ou pensando nas seculares 365 igrejas de Salvador, Paulo seria o reboco das paredes das igreja enquanto Dôra a cambraia bordada do altar

Desde o inicio a noite do casamento prometia.

Como a família não é muito boa com horários e sempre alguém perdia a cerimônia, o sacaninha do Paulo José distribuiu os convites do casamento para as sete e acertou com o padre e a noiva para as oito, isso foi imperdoável e precisava de um troco. Imaginem vocês que era a primeira vez que todos chegávamos a tempo em uma Cerimônia, e como estávamos todos lá na igreja da Ascensão esperando, sem ter o que fazer ... O velho dito se fez verdade: "mente desocupada terreno para o coisa ruim". Começamos a armar o troco. Pobre Dôra.

A festa foi ótima, na casa dos pais da noiva em Lauro de Freitas com show pirotécnico e tudo.

A essa época Marcos Edilton não era bem esse esforçado seguidor dos ensinamentos do Cristo, e #ocoitadinhodomeumarido que nunca convenceu a ninguém da sua santidade, nem vestido como anjo de procissão, já arranjaram um tonel e arame para amarrar no para - choque traseiro em lugar das tradicionais, inocentes e saltitantes latinhas.

Amélia, Mércia, Lia Amoedo e Tereza Valadares por sua vez, se revezavam na venda de alguns metros de pedaços multicores da gravata do noivo, levantando fundos para a lua - de - mel, enquanto se revezavam em vasculhar toda a rede hoteleira da Bahia para descobrir onde os lindinhos iriam passar a noite. Não deu outra, Meridièn em grande estilo, não esqueçam que estamos falando de Paulo José. Não podia ser diferente.

Já era madrugada quando começaram as despedidas. Os noivos receberam o apurado com a venda da gravata e escoltados por todos foram pegar o carro com o tonel amarrado de arame. Não deu outra do portão assistimos Paulo José brigando com o arame e alicate, com pensamentos não publicáveis. Tadinho e pensou que os problemas dele se encerravam ali.

Só demos uma pequena margem de folga para Dôra desfilar a tradicional camisola de renda bordada, e fomos atrás, digamos para compartilhar esta felicidade.

Não contamos com o chiquê do hotel e fomos barrados no baile. Um séquito de seguranças, mal nos deixaram permanecer no lobby do hotel. Como se fossemos um bando de maloqueiros, como puderam pensar isto de nós, afinal estávamos todos muitos bem apessoados, como diria tia Maria, e só bebemos um pouquinho além da conta. Não, não havia a lei seca ainda, e para prevenção contávamos apenas com a corte celestial e terrena, dos orixás.

Ficamos ali com cara de..., voces sabem bem, quando Mércia e PC do R irmãos há algumas encarnações sumiram. E isso era sinal que, logo logo, estaríamos com os noivos.

Era só esperar, nem que fosse pelas tranças de rapunzel, nós subiríamos.

Os dois descarados entraram pela boate do hotel antiga Regine’s, ( bons tempos aqueles ), e de lá simplesmente subiram pela escada de incêndio. Não me recordo qual era o andar, em que os noivos estavam, mas o vento era forte e as ondas quebravam lá embaixo. Como é que alguém consegue usar uma escada daquelas numa situação de emergência¿

Uma vez driblada a segurança, foram até a porta do apartamento se passando por serviço de quarto com a desculpa de estar trazendo flores e champagne.

Paulo José já empolgado com a perspectiva de ver a camisola de rendas embolada e jogada em alguma cadeira, na hora exercitou sua fama de ser suave como casca de jaca. Foi logo dizendo que aquilo era uma lua - de - mel e não um velório, pois já tinha flores demais, e abriu a porta para dar uma gorjeta. Pronto, a confusão estava armada, os dois entraram no apartamento e foram dividir a cama com a perplexa Dôra.

Chantagem é uma coisa feia, mas agora eles só tinham uma alternativa ou ligavam para a recepção liberando para que todos subissem ou teriam uma noite muito romântica com PC do R e Mércia embaixo dos lençóis macios.

A recepção bem que tentou argumentar que aquela hora seria impossível deixar subir tanta gente, mas “papel de enrolar prego”‘ foi logo informando que o sistema de segurança era falho e que eles estavam com dois intrusos no quarto mexendo nas malas a procura de um pijama e uma camisola emprestada para uma noite inesquecível. Mércia sempre soube ser insuportável quando queria uma coisa.

Era a desmoralização para aqueles homens de preto, e o jeito foi liberar o acesso para aquele simpático grupo familiar de pertubadores da ordem. $Ocoitadinhodomeumarido e Marcos Edilton a esta altura já tinham completado o tanque de whisky, e não tinha mais a menor possibilidade de salvação para aquela noite de amor.em poucos minutos estávamos aboletados no que tinha sido um ninho de amor, com abacaxi dentro da fronhas, gelo embaixo dos lençois macios, guerra de uvas, casca de banana pendurada no abajour, ameixas e pêssegos voadores, Mércia de véu e grinalda,Seu Domingos pai #docoitadinhodomeumarido a dizer que se fosse com ele atiraria de espingarda em todo mundo, Janice muito solidária tentando conter a todos, e Dôra com uma cara de quem não acredita que as #coisasquesoacontecemcomigo tinham lhe atingido em cheio.

Como éramos pessoas do bem, fomos gentilmente expulsos atendendo a pedidos vários dos demais hóspedes que não sabiam o que significava ser Cintra Santos, com vocação nata para curtir os bons momentos da vida. E, diga-se de passagem lua - de - mel, mesmo que não seja a sua não deixa de ser um grande momento de diversão.

Mais como Paulo José sempre teve um santo forte e corpo fechado, não precisou se vingar da dupla PC do R e Mércia. A chave do apartamento ficou com Mainha e os dois acompanhados por um sonolento Robson amanheceram o dia na rua, com Mércia de véu e grinalda, esperando Mainha acordar para conseguirem entrar em casa.

Bem feito1! Conseguiram entrar no Meridièn e não conseguiram entrar na própria casa.

Naturalmente que o jovem casal precisou chamar o serviço de quarto para restabelecer a ordem naquele ninho de amor.Mudaram-os de apartamento.

Mas vejam, como nós somos do bem, o dinheiro da venda de metros de gravata deu para pagar toda aquela farra. Ou eles achavam que iriam desfrutar sozinhos tendo a família que tem?

Hoje estes Cintra Ssantos se multiplicaram feito hâmster, e não dá para saber quem é tio, primo ou sobrinho, somos todos sobrinhos do capitão.

Nho
Enviado por Nho em 02/08/2012
Reeditado em 02/08/2012
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