O Coelho e a Tartaruga

Minha vida é como aquele famoso conto: O Coelho e a Tartaruga. Por vezes sou a tartaruga, mas na maioria das vezes, corro e vivo como o coelho.

Quero chegar mais rápido ao destino; quero a casa pronta antes do primeiro tijolo; quero ouvir "eu te amo" antes do primeiro beijo e quero pra ontem o que comecei a fazer hoje. O irônico é que quanto mais eu corro, mas a vida me dá evidências que preciso diminuir a velocidade e que se eu continuar nesse rítmo, não passarei da próxima curva.

Sob o meu comando, a tartaruga sorri pacientemente no banco e espera o momento de eu deixá-la participar dessa corrida, mas luto, ignoro, teimo e deixo-a aguardando, afinal sigo o rítmo do mundo; as demandas da cidade grande. Vivo a "filosofia do coelho" no mundo profissional, no beijo rápido em quem amo por estar sempre atrasado, no telefonema da minha mãe que nunca tenho tempo para atender, no convite dos amigos que sempre deixo a esperar. Quando deixo a tartaruga atuar, e isso só ocorre por alguns instantes, percebo com lucidez que por quase todo o tempo, sou o coelho branco da Alice sempre com um relógio à mão, sempre indo para algum local e chegando à lugar nenhum.

Esses dias, no meio de mais uma corrida diária, senti uma dor bem forte no peito. Pressionado, o coração gritou: pare!

Senti o mundo rodando mais rápido que o sangue que corria em minhas veias, mais rápido que os carros que passavam na avenida com seus passageiros coelhos que nem perceberam outro coelho tropeçando, caindo e se segurando numa árvore, como se ela pudesse devolver o ar que lhe faltava aos pulmões. Em meio a dor, notei a tartaruga no banco de reservas, pedindo para assumir, mas o coelho ficou gritando: "O chefe vai nos matar se nós o fizermos esperar. Esquece a tartaruga! Se recupera logo! Estamos atrasados; temos mais um prazo para alcançar, mas um serviço para finalizar".

Talvez por causa da dor ou por ter me dado conta do quanto o coelho não estava me ajudando naquela situação, deixei a tartaruga assumir a posição e coloquei o coelho no banco. Respirei fundo e a deixei conduzir o ar de volta aos meus pulmões. Com a sabedoria milenar de quem aprendeu a esperar, a tartaruga acalmou meu coração, encheu de paciência o meu sangue e fez minha mente ficar serena, tranquila e limpa.

Não demorou muito e eu estava me sentindo melhor, então, arrumei a gravata e sorrindo voltei a pista: estava de volta à corrida novamente. Agradeci a tartaruga, mas injustamente a substitui pelo coelho, que assumiu sua posição titular, já ordenando: corre, estamos atrasados!

Como já disse, minha vida é uma corrida entre o Coelho e a Tartaruga. Por vezes sou a tartaruga, mas na maioria das vezes, mesmo com a vida me ensinando que preciso diminuir o ritmo, sou teimoso e vivo escalando o coelho; contudo a vida é mais esperta e não vai demorar muito para ela me mostrar novamente que a tartaruga sempre vence no final.