FOME

Fome de amor. Fome de arte, cultura e diversão. Fome de comunhão com mais pessoas. Fomes gerais. Sempre senti fome junto com os famintos desse tipo. Sempre me uni a eles e fui um deles. Mas há uma fome que é a pior de todas: a velha fome, aquela causada pela falta de comida.

Ontem, na minha casa, um pequeno churrasco "improvisado" de domingo. Cerveja, carne macia e suculenta, saladas, farofa... Foi que alguém chamou no portão. Um homem de meia idade, com um rosto digno, sério. Ele me entrega uma folha de papel com as opções daquilo que eu poderia lhe doar: 10 reais, 5 reais, 2 reais, 1 real, e, a parte que me desconcertou, arroz, feijão, fubá, café... Já desci a rampa com os olhos ardendo para pegar algo na despensa. Não se trata de caridade. Mais difícil seria não dar. Ele agradeceu e disse: "Deus te dê em dobro". Desta vez desci a rampa chorando. Depois de uma crise de choro, me acalmei e consegui comer o delicioso prato, com arroz, farofa, carne e salada vinagrette. Fui pra cama ver as olimpíadas, no meu conforto. Tive um pouco de febre. Não dá para, a toda hora, fingirmos que nada de errado está acontecendo.