Igreja Católica, Racismo e o Sal

Tenho cara e jeitão de louco. Mas não sou. Juro. Sou até mesmo um ser sociável. Gosto de conversar assuntos babacas, como política e economia, e falar sobre assuntos sérios, como Michel Teló e novela das oito. Sou tão sociável que fui numa missa, na cidade de Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul. Fui com a mais pura e boa vontade, ninguém me obrigou. Rezei e cantei como nunca. Tomei até hóstia. Era a missa de formatura da minha cunhada. Cheguei e me deparei com um padre alemão, de cavanhaque proeminente, careca e semblante fechado. Podia ser facilmente confundido com um guarda de banco, desses que sempre nos olham desconfiados. Em volta dele, como serviçais, estavam dois homens que beiravam os 100 anos, o que, na época em que eu era catequizando, eram conhecidos por coroinhas. Os tempos mudam. Não vi coroinha algum. Agora quem auxilia são os ministros. Os ministros buscam o pão e o vinho. Fiquei inquieto à medida que as palavras ecoavam da boca do padre. Era um sermão que envolvia sal. Sal? “Que você deve ser sal, não ter forma, mas ter gosto”. Era algo assim. O padre era um gênio. Tão inteligente que não entendi nada. Os sermões também andam mais complexos. Minha inquietude me fez olhar para os lados. Havia na igreja umas 150 pessoas. De todas elas não havia nenhum negro, travesti, homossexual ou pobre. As pessoas eram brancas, heterossexuais e aparentemente com boas condições financeiras. Os homens usavam camisa social e calça jeans. As mulheres vestidos bordados. Os mendigos pediam moedas na saída da igreja, deitados ao chão sobre papelões. Os mendigos ocupavam o lado de fora. Olhei para o teto. A imensa igreja era pintada com imagens santas e outros personagens bíblicos. Dos mais de mil personagens, nenhum era negro. Fiquei a pensar: Onde estão os negros? Por que não havia nenhum negro na igreja? Por que meus olhos nunca viram um padre ou um bispo negro? Por que nunca houve na história do mundo um papa negro? Saí atordoado, com a história do sal, e com a ausência dos negros. É um mero racismo da igreja católica ou fantasia de uma mentalidade insana?