TRISTE EXPERIÊNCIA

 
            Num dia frio e chuvoso do mês de agosto de 2008, no dia 07 para ser exato, uma dor no umbigo piorou. (Quase não costumo escrever minha própria experiência. Normalmente quando o faço, coloco na terceira pessoa). Começou com uma hérnia umbilical. Os médicos diziam que era uma bolha d’água e começaram a me empurrar antibióticos, que não resolviam nada. Passei à noite levantando, indo ao banheiro e só não gritava de dor porque seria muito feio. Abraçava-me com o travesseiro e tentava dormir. Dava umas curtas cochiladas, mas em seguida tinha que me levantar de novo.

            O dia amanheceu. As horas demoravam uma eternidade para passar. Achei que havia chegado meu fim, mas não tive medo da morte. “Seja o que Deus quiser”. – Pensava. Muitos amigos que me conheciam e sabiam do meu problema, estavam em oração em meu favor. Intercedendo ao Eterno por mim. Minha barriga parecia que ia estourar.

            A hérnia estourou para fora. Aquela coisa nojenta. Eu mesmo quase não percebia o fedor, mas sei que estava tão forte que se um urubu entrasse no meu quarto, teria que entrar de ré. Nem ele aguentaria. Havia necrosado tudo. Os médicos do posto de saúde foram chamados. Vieram e imediatamente chamaram o SAMU. Levaram-me na ambulância até o posto de Saúde 24 horas mais próximo da minha residência. Lá fiquei até mais ou menos 1 hora da manhã. Tiraram não sei quantos litros de porcaria de dentro de mim. Era pus misturado com fezes. (Até a pena da minha caneta quase se recusa a escrever essa nojeira. Desculpe-me caro leitor).

            Lá pelas tantas me levaram até o Hospital Cajuru, no bairro do mesmo nome. Fui muito bem atendido. Fizeram a cirurgia. Quando acordei estava todo enfaixado. Conduziram-me para o quarto com 4 leitos. Isso foi no dia 08 de agosto de 2008.

            Três dias depois estava eu de novo na mesa de cirurgia. Na segunda vez com muito medo. Falava em pensamento: “Meu Deus... me ajude... “ Aconteceu-me uma experiência interessante. Quando conto isso, quase sempre não contenho as lágrimas. Ouvi uma voz suave em minha mente que disse: “Não temas. Estou contigo”. Com isso fiquei mais tranquilo. Trouxe-me uma paz inexplicável. Passei pela segunda cirurgia. Tiraram um pedaço de 35 cm de intestino fino, porque estava necrosado e eu sempre correndo o risco de vida. A partir daí, fiquei no isolamento. A voz meiga e suave continuava a soar em meu subconsciente. E assim os dias foram passando, e eu  praticamente residindo no hospital. Fizeram a terceira operação. Ora melhorava um pouquinho, ora piorava. Uma ou duas semanas depois, fizeram a terceira. Eu já não aguentava mais. Cheguei um ponto que pensava que o morrer para mim seria lucro. Ao mesmo tempo pensava que eu ainda tinha sonhos que não haviam sido realizados e que Deus mesmo sonhou para mim. Tinha aquela certeza que não morreria, pelo menos daquele problema.

            Por três vezes de eu ficar literalmente desenganado. Sabia disso porque ouvia o médico conversando com meus familiares e eles começarem a chorar. Meu filho dizia: “Pai, reaja. O senhor não vai morrer”. O médico dizia que eu estava em cima do muro. Poderia cair pra lá, ou pra cá. Pra cá, queria dizer que eu poderia sobreviver. Os rins pararam de funcionar. Não conseguia nem abrir os olhos de mal que fiquei. Deitado naquele leito eu parecia uma bola de tão inchado, e sonda em todos os lugares. A alimentação era líquida através da artéria.

            Foram 40 longos dias de sofrimento. Muitos amigos orando, outros rezando e até gente fazendo promessas, e cumprindo depois que saí vivo do hospital. Só sei que as orações funcionaram e pela graça de Deus estou aqui. Costumo dizer que minha vida é uma sequência de milagres.

            Interessante que no dia 11 de agosto de 2008, Foi feito a segunda cirurgia. Enquanto eu estava num hospital quase morto, no outro nascia minha netinha Larissa. Hoje brinco que se eu tivesse partido não iria fazer muita falta porque havia ficado a neta no meu lugar.

            Nunca entendi porque fiquei nessa situação. Nunca desprezei ninguém, sempre (ou quase) na medida do possível procurei ajudar as pessoas de alguma forma. Procurei tratar aos outros da maneira como eu gostaria que me tratassem. Mas Deus sabe. Talvez nunca saberei a resposta.

            Aprendi que neste mundo não somos nada. Se não fosse a misericórdia de Deus, não estaríamos aqui. Chegam esses momentos que pobre, rico, simples e nobres, tornam-se todos iguais. O médico falava para as enfermeiras: “Este não sei se passa de hoje. Não está nada bem... “ E eu ouvindo tudo. Como alguém que rebatia aquela conversa negativa, a voz suave dentro de mim novamente me confortando: “ Não temas que estou contigo”. Só podia ser Deus.

           Minha saúde recuperei 80%. Minha barriga ficou toda deformada. Na medida do possível trabalho normalmente. Não posso levantar peso. Exercício físico pra mim é só caminhada. Sou servidor público estadual, na área da Educação. Hoje posso dizer: Obrigado Senhor por mais um dia.

(Christiano Nunes)