Antes tarde do que mais tarde

Primeiro dia de aula na faculdade. Na verdade começou ontem, onde já se viu começar as aulas numa quinta-feira? Enfim, só fui hoje por que não queria ficar desesperado procurando minha sala depois. Se bem que descobri que ela fica a menos de um metro depois da catraca. Há certas coisas na vida que eu sinto que são sinais, claros, bem claros daquilo que temos que fazer. Interpretá-los não é fácil, e para desenvolver essa técnica você tem que usar tudo o que a natureza lhe ofereceu e, tudo aquilo que nasceu com você.

Usei meu olhos, ouvidos e meu faro infálivel, treinado por muitos anos. Minha boca? Ultimamente só para comer, estou procurando falar menos, porém ando esquecendo quando tenho que falar.

O professor era ótimo, fazia todos rirem com suas histórias e interagia com a sala, o que não significava que sua prova no final do semestre seria super fácil. Enfim, ele nos apresentou o que ele gosta de chamar de “case”.

Numa loja de roupas de marca famosa, um senhor chegou perto de uma vendedora e disse que seu filho havia morrido e ele queria muito um lenço de cor preta para o velório. Ela perguntou para os seus colegas de trabalho se havia este produto lá para vender e a resposta foi, não, não havia aquele produto, a loja não vendia lenços. A pergunta foi: no lugar dela o que vocês fariam?

E o professor que fez esta pergunta, começou a escolher os alunos para responderem. Um aluno do meio da sala disse que poderia oferecer outra opção para o cliente. Logo o professor falou, “ah, claro, podemos entregar ele para a loja concorrente, ótima conclusão”. Escolheu mais um aluno que disse, “infelizmente não possuimos este produto”. O professor também reprovou esta resposta. E eu pensava comigo enquanto vários alunos estavam dizendo os seus sinceros “não sei o que eu faria professor”, como eu já trabalhei como vendedor numa loja de roupas, sei que no estoque ficam algumas meninas que consertam algumas peças que vem da fábrica com algum eventual defeito, por isso sobram alguns retalhos.

Eu ainda ouvia muitos “não sei”, quando o professor disse, “bom ninguém tem resposta diferente?”, brincou imitando um leilão, “dou-lhe uma...dou-lhe duas...” e sem resposta ele mudou para o slide seguinte, onde estava lá a minha reposta certa para este problema.

Essa vendedora pediu a uma das costureiras que acertasse alguns pontos num retalho grande que pudesse virar um lenço e deu ao senhor, explicando que a loja não tinha o produto, porém ela conseguiu um com a costureira.

Foi onde levei um super tapa na cara. Inclusive pensei, se ele perguntasse pra mim o por que eu não tive essa idéia, eu poderia responder que já conhecia essa história e achei desonesto responder sabendo da resposta, só que era muito mentira minha. Claro que ele não me perguntou isso, nem pra mim e nem pra ninguém, ele simplesmente continuou a sua aula.

Tive mais um estalo, o por que muitas vezes nós sabemos o que tem de ser feito, mas não fazemos? Medo? Medo de quê? O que é que eu tinha a perder? Medo do que as pessoas poderiam pensar? E daí? Quem paga minhas contas? Tenho que rever meus conceitos, aliás já o fiz, tanto que eu sabia que poderia ter escrito este texto antes.

Gustavo Barreto
Enviado por Gustavo Barreto em 14/08/2012
Código do texto: T3829263
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.