PESSOAS INQUESTIONÁVEIS
 
Às vezes a gente se cansa e tem vergonha de falar que cansou. Insistimos em dizer que está tudo bem, as mil maravilhas, quando na verdade não está.
Esta é uma das diversas características da autodeterminação voluntária do ser humano. Dificilmente conseguimos enxergar esta faceta em qualquer outro animal, em qualquer outra espécie de vida, que não a do homem.
Por medo de magoar o outro, o ser humano magoa a si mesmo, negando-se ao óbvio. O cansaço da mente, do corpo, do meio social, das suas zangas, das suas abobrinhas... Mas estas são suas e, cabe a ele romper com tudo e com todos e procurar nutrientes para o seu bem estar corporal, intelectual e espiritual.
As favas o bem estar primeiríssimos dos outros, primeiro o nosso conforto físico e psíquico, por que só assim conseguiremos compreender as mazelas dos outros e encaminhá-los à base de seus nutrientes.
Há várias passagens na bíblia que nos remete ao afastamento do Filho do Homem da multidão e que vale apena meditar sobre esses fatos: quando Jesus de certa forma sentia-se cansado, necessitado de paz, possivelmente pelos problemas dos outros, na sua infinita misericórdia, saia de cena, se afastava desses outros para orar em um monte, em algum lugar, ficar consigo mesmo e reabastecer as suas condições psíquicas, para só depois retornar ao convívio desses outros.
Tenho me perguntado, de certo modo, por que não agimos segundo as nossas necessidades? Por que temos que encenar já que muitas vezes estamos fora do palco da vida? Inúmeras vezes estamos adentrando um buraco sem fundo e não reagimos em defesa de nos mesmos? O que se passa? O que acontece conosco? Medo? De que?
As respostas a todas estas questões estão em nós mesmos e nunca no outro.
Ninguém em tempo algum poderá respondê-las por nós. Por que as nossas necessidades psíquicas são completamente independente das necessidades inerentes aos outros.
Não viemos ao mundo para satisfazer ninguém, viemos para conviver com os outros, conviver bem, a satisfação é um ato que nos propicia valores e em assim sendo transferimos esses valores para os outros em beneficio da coletividade.
Tenho eu, tentado não me oprimir, via medo, cansaço físico e mental. Mas nem sempre consigo ultrapassar este obstáculo encrustado nas abas divisoras da minha estrada, nesse meu caminhar ao longo desta jornada pela vida terrena.
Hoje busco recuperar um tempo perdido, um tempo de dedicação exclusiva aos outros, um tempo que deixei para trás, um tempo no qual não ingeri os nutrientes restauradores do físico e do espirito meu.
A essa altura da minha estrada, ninguém vai querer me ensinar àquilo que eu não queira aprender. Ninguém vai querer ir de encontro a uma barreira que não possa ser ultrapassada. Hoje eu posso ser esta barreira ou outra tão maleável que não ofereça qualquer resistência. Depende apenas do ponto de vista empregado na observação. Por um lado serei o eterno aprendiz, o matiz renovador e por outro o obstáculo insuperável aos detentores da verdade inquestionável. Ela existe? Onde? Quem a tem? Eu? Você? Eles? Não me provoquem o riso.
 
                   Rio, 15/08/2012
                 Feitosa dos Santos