PRIMEIRO OS MAIS VELHOS

Nos quarenta, algumas vezes escrevi sobre os quarentões. Agora que passei alguns dos cinquenta, ainda não havia tratado do tema.

Certa vez, li alguém que escreveu “um dos grandes problemas de ter mais de cinquenta é que, em todos os lugares onde se está, a maioria das pessoas é mais jovem”.

Dia desses um rapaz, quem tem menos de quarenta para mim é um rapaz, deu-me prioridade para entrar no elevador: - primeiro os mais velhos. Não havia passado meia hora e lá estava ele, de novo, “primeiro os mais velhos”.

- Que te aflige? É a segunda vez que tu vens com esta história de mais velho.

Estava traumatizado. Havia sido chamado de “tio”, pela primeira vez. Reconheço que parece estranho. Comigo ocorreu na praia, jogando futebol. De repente, toda gurizada gritava “tio aqui” quando eu pegava a bola.

Aos cinquenta as coisas são diferentes. No banco, outro dia, uma menininha me deu senha para idoso. Achei que tinha se enganado. Outro dia, de novo. As meninas perderam a noção, mal passei dos cinquenta. O problema maior não é a questão da idade, mas ser interpelado por um idoso por estar furando a fila. Se as idades são três, considerando a longevidade da ala masculina da família, eu já estou na terceira.

- Nem tudo está perdido, dizia o Percival. Encontrei uma amiga dos tempos da juventude, um pouco mais velha que eu. Sabe como me recebeu?

- Fala.

- Como estás, guri?

É, falei eu, algo irônico, conta então como te falou aquela guria nova, novíssima, lá do gabinete do teu chefe, provoquei.

- Adoro quando tu chega, Percival, esta tua calma, tua tranquilidade, teu jeito... parece o meu avô.